23 de dez. de 2014

MAGIAS NATALINAS - PARTE 2.

Mili Weber.


O Natal realmente nos deixa mais sensibilizados, tocando nossos corações de maneira única. Por que não aproveitar esse momento para despertar sonhos adormecidos dentro de nós? Que possamos ir ao nosso passado, reviver nossa infância, época em que não havia medo, apenas a certeza da felicidade, do aconchego, da proteção. A época do Natal nos remete à magia de sonhar e a mim pessoalmente me faz lembrar noites frias e brancas, de neve caindo, da luz de velas adornando um pinheiro e dos sinos tocando, de histórias contadas pelos adultos enquanto nos aninhávamos aos seus pés, maravilhados pela magia. Os convido a me acompanhar pela segunda parte deste mundo encantado, onde lhes apresento mais alguns ilustradores dos livros e histórias que guardo em minha memória e no meu coração.

IDA BOHATTA-MORPURGO – AUTORA E ILUSTRADORA DE LIVROS INFANTIS – ÁUSTRIA


Ida Bohatta.

Nascida em 15 de abril de 1900 em Viena, Ida Bohatta é uma ilustradora e autora bastante conhecida, frequentou a Escola de Artes Aplicadas de Viena e desde muito jovem revelou seu talento para pintura e para a escrita, ilustrando diversos livros infantis para os quais ainda escrevia os textos. Com seu sucesso inicial conheceu o dono de uma editora famosa, Joseph Müller Verlag, em 1927, que a convidou para elaborar uma série de cartões postais ilustrados (Fleissbildchen) para sua outra editora ARS SACRA, pela qual a partir de 1929, foram lançados os famosos livros Infantis da coleção IDA BOHATTA, que eram livros em formato pequeno, com um número de 8 a 12 ilustrações coloridas que além de suas belíssimas ilustrações ainda continham os textos escritos por ela.

Texto e ilustração Ida Bohatta.


Ilustrações em cartões de Ida Bohatta.


Ilustração cartão Ida Bohatta.


Livro infantil - Ida Bohatta.            


          Livro Infantil - Ida Bohatta.


Texto e ilustração Ida Bohatta.            


               Texto e ilustração Ida Bohatta. 


Fleissbildchen - Texto e Ilustração Ida Bohatta.


Em 1938, a artista foi incorporada a “Reichsschrifttumskammer” (“Câmara de Cultura do Reich”) pelo Partido Nacional-Socialista que comandava o país e seus livros infantis continuaram a ser publicados, mesmo recomendados por serem na opinião do partido autenticamente germânicos contendo em suas histórias a cultura tipicamente teutônica. Porém, não há registros e nenhuma evidência de um compromisso politico-ideológico com o Reich por parte da escritora que seguia os preceitos do catolicismo. 


Ida Bohatta.



Fleissbildchen - Ida Bohatta.



Ilustração  - Ida Bohatta.


                 Fleissbildchen - Ida Bohatta.

Ilustração - Ida Bohatta.



Ilustração - Ida Bohatta.


Ela ilustrou livros de autores bastante famosos como os de Anneliese Umlauf-Lamatsch ou ainda de Margarete Seemann, porém ficou mais conhecida pelos próprios livros que também ilustrou e que somam mais de 70 obras, com uma tiragem total de mais de cinco milhões de cópias, traduzidas para mais de 13 idiomas, incluindo o japonês, e que continuam sendo até hoje um sucesso ininterrupto. Ela introduziu temas religiosos em seus livros, entretanto ficou famosa mesmo pelos títulos que retratam o mundo encantado de elfos, duendes e fadas, assim como de seres elementais e suas famosas ”Blumenkinder” (“crianças flor”).  Suas aquarelas criam um mundo harmonioso, aonde as estações vão mudando e a natureza toda acompanha esta metamorfose. Desta maneira ela apresenta as crianças um sentido para a vida e para tudo que ela contém. Enaltecendo um mundo mágico, quase que fugaz, que somente olhos imbuídos de encanto podem ver, ela nos faz enxergar o fluxo da vida o desenrolar dos dias e das estações do ano no ciclo imutável de nascimento, morte e renascimento, retratando a época do Natal, com seu grosso manto de neve, como algo adormecido que sabemos que não findou. Suas florezinhas não morreram, apenas hibernam descansando debaixo do chão enquanto o Sol repousa em sua cama de nuvens. Os flocos de neve como pequenos seres cristalinos habitam por um breve instante esta amplitude gelada e translúcida.


Flocos de neve - Ida Bohatta.


        Flocos de neve - Ida Bohatta.


Ilustração  -  Ida Bohatta.


Ilustração  -  Ida Bohatta.


Ilustração  -  Ida Bohatta.


Ilustração  -  Ida Bohatta.


Ilustração  -  Ida Bohatta.


Ilustração  -  Ida Bohatta.


Ilustração  -  Ida Bohatta.


SYBILLE VON OLFERS – AUTORA E ILUSTRADORA DE LIVROS INFANTIS – ALEMANHA


Sybille Von Olfers.


Sybille Von Olfers nasceu em 8 de maio de 1881, em Schloss Metgethen bei Königsberg, na Alemanha. Terceira de cinco irmãos, Sybille cresceu protegida e apreciava juntamente com seus irmãos uma educação integral de ensino por governantas e tutores. Com seus pais mantinha relação cordial e era considerada por todos uma menina fina, inteligente, que revelava uma paixão precoce pelo desenho. Desde pequena, demonstrou uma religiosidade diferente da de seus irmãos construindo um pequeno altar em seus aposentos onde fazia suas orações em silêncio rodeada da luz de velas e diante de uma figura da Madona que ela mesma modelou. Tinha um afeto e uma relação particularmente próxima a sua irmãzinha mais nova (que nasceu logo após Sybille) para quem criava histórias e as ilustrava. Ainda pequena, recebia encomendas para pintar Imagens de Santos e passagens bíblicas.

Ilustração - Sybille Von Olfers.


       Ilustração - Sybille Von Olfers.


Aprendeu a pintar plantas e animais com sua tia Maria Von Olfers que vivia como escritora e pintora em Berlim e visitava a família no castelo Metgethen todos os verões. Aos dezessete anos, foi viver com sua tia em Berlim e lá se formou em desenho e pintura frequentando ainda as aulas de arte de Julie Schultzen-Asten na renomada escola de artes de Berlim. Ingressou na ordem religiosa “Grauen Schwestern Von der Heiligen Elisabeth” (em tradução literal, “Irmãs cinzentas de Santa Elizabeth”) em 21 de maio de 1906, em Königsberg, onde aprofundou não apenas seus estudos de artes como também começou a lecionar na escola primária católica em Lübeck, na qual ensinou diversas matérias além de história da arte. Fora o seu trabalho acadêmico, ela ainda visitou a escola de arte do renomado pintor Willibald Von Leo Lütgendorff-Leinburg e ali se especializou, principalmente, em copiar os antigos mestres italianos. Pintaria seus primeiros retábulos para a Igreja Coração de Jesus, na paróquia de Lübeck, alguns dos quais ainda se encontram em bom estado de conservação. Sofrendo de uma doença pulmonar crônica veio a falecer com apenas 35 anos de idade, em 29 de janeiro de 1916, em Lübeck causando grande comoção a época. Ela mesclava seu dom natural de observar um desenho simples o que a fez ser comparada muitas vezes com outras ilustradoras como Kate Greenway e Elsa Beskow.

Kate Greenway                  


               Elsa Beskow.


Sybille Von Olfers – Wind Children.

Em sua curta vida escreveu e ilustrou dez livros infantis Ficando muito conhecida por seu livro “The Story of the Children Root”, título original, "Etwas von den Wurzelkindern" que publicou em 1906. O que nos cativa no livro “Etwas Von Wurzelkindern” (“algo sobre crianças raiz”) é sem dúvida nenhuma a circunstância de segurança em que vivem as personagens no ventre da Mãe Terra. Essas crianças, que despertam lentamente para a vida crescem e se preparam para deixar o lar; seu destino: ganhar o mundo para depois de um ciclo completo poder retornar. Desprendimento, autodescoberta e o retorno a suas raízes. Em seus livros e ilustrações a natureza se apresenta as crianças de forma antropomórfica¹, sendo as histórias em sua maioria em forma de rima que nos contam a relação das pessoas – em sua maioria crianças – com a natureza, simbolizada por figuras de joaninhas, caracóis, coelhinhos, gnomos, duendes, assim como flores, flocos de neve, gotas de chuva [...] ajudando as crianças a compreenderem os processos da natureza de forma lúdica e imaginativa. Seus livros continuaram encantando crianças e adultos por gerações com seu modo delicado e sensível, trazendo um mundo imaginário pleno de simbologia para dentro de nossos corações.


The Root Children - Sybille Von Olfers.


The Root Children.    


The Root Children.  


       The Root Children.  


                       


The Root Children.
  


        The Root Children.  


The Root Children. 


The Root Children. 


Ilustração - Sybille Von Olfers.



FELICITAS KUHN – ILUSTRADORA DE LITERATURE INFANTIL – ÁUSTRIA

Felicitas Kuhn.                                          


Ilustração  - Felicitas Kuhn.


Nascida na Áustria, na linda cidade de Viena em três de janeiro de 1926, também é conhecida pelo nome de Felicitas Kuhnová. Ilustradora de livros infantis na linha de contos de fadas e lendas, assim como livros onde os contos e ilustrações são de natureza antropomórfica¹, ou seja, são contos de fundo moral. Os livros de contos de Fadas (Märchen), Contos de Anões (Wichtel - und Zwergebücher), ilustrados por ela alcançaram uma edição de mais de 900.000 exemplares. Além disso, suas ilustrações ornaram com muita beleza plástica baralhos infantis, cartões de felicitações e de natal, (muito usados na época, pois ainda se escrevia a mão, enviando cartões de felicitações para datas importantes), calendários natalinos além de objetos decorativos. As técnicas que mais utilizava eram o nanquim e a aquarela, que dominava com perfeição.


                 Fiocchetti - Felicitas Kuhn.


Nonno Albero e il piccoli abeti - Felicitas Kuhn.


            Ilustração  - Felicitas Kuhn.


Livro ilustrado por Felicitas Kuhn.


Livro ilustrado por Felicitas Kuhn.

Esta filha de dentista formou-se na Escola Superior de Artes Gráficas e Instituto de Pesquisas em Viena. Posteriormente, a ilustradora trabalhou no Museu de História Natural, “Kunsthistorisches Museum” de Viena. Fora uma das artistas gráficas que ilustravam as páginas da revista “Wunderwelt”, em circulação de 1948 a 1986. Nesta revista Felicitas Kuhn ilustrava os contos de fadas que tinham destaque na publicação, para qual trabalhou até o ano de 1957.


Revista Wunderwelt.

Suas ilustrações são de um realismo Naív, suas cores brilhantes não se misturam com frequência, sua aplicação quase lisa, plana, sem muitos sombreados, com contornos nítidos e estrutura de tela simples, lhe valeu algumas avaliações negativas por parte dos críticos de literatura infanto-juvenil da época. Porém sua representação simples encontrou no universo infantil a compreensão e o fascínio esperados, pois ela conseguia dar a suas figuras o aspecto inocente necessário, tornando-as particularmente afetuosas e adoráveis. Um dos seus pontos fortes são os desenhos naturalistas de flores, rosas em particular, que representava com perfeição. Geralmente sentava-se no início da manhã para pintar uma rosa e continuava retratando-a até ao anoitecer para ter certeza de fazer nascer inalterável na ponta de seu pincel sua beleza e nobreza. Deste trabalho surgiu uma série de cartões postais de rosas.

   Ilustração - Felicitas Kuhn.


 Ilustração - Felicitas Kuhn.                  

 Ilustração - Felicitas Kuhn.

 Ilustração - Felicitas Kuhn.


 Ilustração - Felicitas Kuhn.


MILI WEBER – ARTISTA E ILUSTRADORA DE LIVROS INFANTIS – SUÍÇA – 1891-1978.


Mili Weber mit Ihrem Reh “ Fin”.

                    Ilustração - Mili Weber.


Nascida em Biel, no cantão de Berna na Suíça em primeiro de março do ano de 1891, esta artista fascina por sua delicadeza de traços em aquarela e pela fluidez mágica que imprime as suas pinturas. Ainda muito jovem começou a pintar e ilustrar todas as histórias que ouvia ou lhe contavam, passando horas no quintal de sua casa envolvida pela sua imaginação, rodeada de papéis, pincéis e cores. Sua meia-irmã, Anna-Haller, dezenove anos mais velha, que se tornou uma grande artista e pintava flores foi seu maior exemplo. Com ela, Mili começou a ter suas primeiras lições de arte.


Anna Haller.                                              


                              Pintura de Anna Haller.


 Ilustração - Mili Weber.


    Ilustração - Mili Weber.


Ilustração - Mili Weber.


    Ilustração - Mili Weber.


Ilustração - Mili Weber.


Ilustração - Mili Weber.



Mili Weber sempre foi de índole simples, gostava de observar a natureza que a cercava na qual se inseria quase como se formassem uma unidade. Suas pinturas demonstram esta profunda ligação entre ela e o ecossistema. Formou-se professora de jardim de Infância, na escola “Neue Mädchenschule Bern” em Berna, e em 1912 viajou com sua irmã para Munique, onde visitou a escola de artes do Professor e artista H.Knirr, lá aprendendo a fazer Retratos (Portraits) e  pintura figurativa. Após a eclosão da Primeira Guerra Mundial, Mili e sua irmã Ana se refugiaram na Suíça, mais precisamente em St. Moritz, onde o pai e o irmão construíram um belíssimo chalé que viria a lhe servir de atelier e lar até o fim de seus dias. Esta casa chamada “MILI-WEBER HAUS” hoje é um museu e abriga a história de sua vida, suas obras e obras de sua irmã Ana Haller.


Mili Weber Haus.


            Mili Weber Haus.


Mili Weber Haus.


Mili Weber Haus.          


                 Ilustração - Mili Weber.


Ilustração - Mili Weber.    


                        Ilustração - Mili Weber.


Mili, cada vez mais foi se dedicando aos temas de contos de fadas e lendas que representava em tons suaves, pinceladas tranquilas interpretando o mundo mágico a sua maneira, retratando um mundo bom, bonito e sem violência, um mundo no qual segundo suas crenças as crianças pequenas necessitam estar inseridas enquanto pequenas, um mundo belo. Pintou murais, afrescos, quadros a óleo, retratos (Portraits) e muitas aquarelas, com estas últimas ilustrando diversos livros infantis. Além disso, ela ainda compunha músicas e escrevia textos e pequenos contos. 


 Ilustração - Mili Weber.


 Ilustração - Mili Weber.


 Ilustração - Mili Weber.


 Ilustração - Mili Weber.


  Ilustração - Mili Weber.


 Ilustração - Mili Weber.


 Ilustração - Mili Weber.


Com o avançar de sua idade uma doença em seus olhos lhe impossibilitou de continuar pintando e com o tempo uma névoa acinzentada foi tomando conta de sua visão; porém ela nunca perdeu seu sorriso iluminado e ao ser questionada em como se sentia em não poder ver mais suas pinturas ela simplesmente respondeu: "não preciso vê-las, carrego-as no meu coração [...]"


Mili Weber.

¹Antropomorfismo é uma forma de pensamento que atribui características ou aspectos humanos a deuses, elementos da natureza, animais e constituintes da realidade em geral. Uma outra acepção de Antropomorfismo refere-se a dar característica humanas a animais ou objeto inanimados usado originalmente em contos morais como os contos de fadas, e posteriores livros infantis como por exemplo Peter Rabbit, criado por Beatrix Potter em 1893. Tem tido recentemente uma grande expansão graças à criação do Desenho Animado no final do século XIX e inicio do século XX e com o advento dos grandes estúdios de animação, como o de Walt Disney, Warner Bros, Tex Avery e os estúdios dedicados a Televisão, como o Estúdio Hanna-Barbera.


                                       Ilustração - Mili Weber.

Um comentário:

  1. "Feliz, feliz Natal, a que faz que nos lembremos das ilusões de nossa infância, recorde-lhe ao avô as alegrias de sua juventude, e lhe transporte ao viajante a sua chaminé e a seu doce lar!" - Charles Dickens

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