Mili Weber.
O Natal realmente nos deixa mais
sensibilizados, tocando nossos corações de maneira única. Por que não
aproveitar esse momento para despertar sonhos adormecidos dentro de nós? Que
possamos ir ao nosso passado, reviver nossa infância, época em que não havia
medo, apenas a certeza da felicidade, do aconchego, da proteção. A época do
Natal nos remete à magia de sonhar e a mim pessoalmente me faz lembrar noites
frias e brancas, de neve caindo, da luz de velas adornando um pinheiro e dos
sinos tocando, de histórias contadas pelos adultos enquanto nos aninhávamos aos
seus pés, maravilhados pela magia. Os convido a me acompanhar pela segunda
parte deste mundo encantado, onde lhes apresento mais alguns ilustradores dos
livros e histórias que guardo em minha memória e no meu coração.
IDA BOHATTA-MORPURGO – AUTORA E ILUSTRADORA
DE LIVROS INFANTIS – ÁUSTRIA
Ida Bohatta.
Nascida em 15 de abril de 1900 em
Viena, Ida Bohatta é uma ilustradora e autora bastante conhecida, frequentou a
Escola de Artes Aplicadas de Viena e desde muito jovem revelou seu talento para
pintura e para a escrita, ilustrando diversos livros infantis para os quais
ainda escrevia os textos. Com seu sucesso inicial conheceu o dono de uma
editora famosa, Joseph Müller Verlag, em 1927, que a convidou para elaborar
uma série de cartões postais ilustrados (Fleissbildchen) para sua outra editora
ARS SACRA, pela qual a partir de 1929, foram lançados os famosos livros
Infantis da coleção IDA BOHATTA, que eram livros em formato pequeno, com um
número de 8 a 12 ilustrações coloridas que além de suas belíssimas ilustrações
ainda continham os textos escritos por ela.
Ilustrações em cartões de Ida Bohatta.
Fleissbildchen - Texto e Ilustração Ida Bohatta.
Em 1938, a artista foi incorporada a
“Reichsschrifttumskammer” (“Câmara de Cultura do Reich”) pelo Partido
Nacional-Socialista que comandava o país e seus livros infantis continuaram a
ser publicados, mesmo recomendados por serem na opinião do partido
autenticamente germânicos contendo em suas histórias a cultura tipicamente
teutônica. Porém, não há registros e nenhuma evidência de um compromisso
politico-ideológico com o Reich por parte da escritora que seguia os preceitos
do catolicismo.
Ida Bohatta.
Ilustração - Ida Bohatta.
Ilustração - Ida Bohatta.
Ela ilustrou livros de autores
bastante famosos como os de Anneliese Umlauf-Lamatsch ou ainda de Margarete
Seemann, porém ficou mais conhecida pelos próprios livros que também ilustrou e
que somam mais de 70 obras, com uma tiragem total de mais de cinco milhões de
cópias, traduzidas para mais de 13 idiomas, incluindo o japonês, e que continuam
sendo até hoje um sucesso ininterrupto. Ela introduziu temas religiosos em seus
livros, entretanto ficou famosa mesmo pelos títulos que retratam o mundo
encantado de elfos, duendes e fadas, assim como de seres elementais e suas
famosas ”Blumenkinder” (“crianças flor”). Suas aquarelas criam um mundo harmonioso,
aonde as estações vão mudando e a natureza toda acompanha esta metamorfose.
Desta maneira ela apresenta as crianças um sentido para a vida e para tudo que
ela contém. Enaltecendo um mundo mágico, quase que fugaz, que somente olhos
imbuídos de encanto podem ver, ela nos faz enxergar o fluxo da vida o
desenrolar dos dias e das estações do ano no ciclo imutável de nascimento,
morte e renascimento, retratando a época do Natal, com seu grosso manto de
neve, como algo adormecido que sabemos que não findou. Suas florezinhas não
morreram, apenas hibernam descansando debaixo do chão enquanto o Sol repousa em
sua cama de nuvens. Os flocos de neve como pequenos seres cristalinos habitam
por um breve instante esta amplitude gelada e translúcida.
Flocos de neve - Ida Bohatta.
Ilustração - Ida Bohatta.
Ilustração - Ida Bohatta.
SYBILLE VON OLFERS – AUTORA E
ILUSTRADORA DE LIVROS INFANTIS – ALEMANHA
Sybille Von Olfers.
Sybille Von Olfers nasceu em 8 de
maio de 1881, em Schloss Metgethen bei Königsberg, na Alemanha. Terceira de
cinco irmãos, Sybille cresceu protegida e apreciava juntamente com seus irmãos
uma educação integral de ensino por governantas e tutores. Com seus pais
mantinha relação cordial e era considerada por todos uma menina fina,
inteligente, que revelava uma paixão precoce pelo desenho. Desde pequena,
demonstrou uma religiosidade diferente da de seus irmãos construindo um pequeno
altar em seus aposentos onde fazia suas orações em silêncio rodeada da luz de
velas e diante de uma figura da Madona que ela mesma modelou. Tinha um afeto e
uma relação particularmente próxima a sua irmãzinha mais nova (que nasceu logo
após Sybille) para quem criava histórias e as ilustrava. Ainda pequena, recebia
encomendas para pintar Imagens de Santos e passagens bíblicas.
Ilustração - Sybille Von Olfers.
Aprendeu a pintar plantas e animais
com sua tia Maria Von Olfers que vivia como escritora e pintora em Berlim e visitava
a família no castelo Metgethen todos os verões. Aos dezessete anos, foi viver com
sua tia em Berlim e lá se formou em desenho e pintura frequentando ainda as
aulas de arte de Julie Schultzen-Asten na renomada escola de artes de Berlim.
Ingressou na ordem religiosa “Grauen Schwestern Von der Heiligen Elisabeth” (em
tradução literal, “Irmãs cinzentas de Santa Elizabeth”) em 21 de maio de 1906,
em Königsberg, onde aprofundou não apenas seus estudos de artes como também
começou a lecionar na escola primária católica em Lübeck, na qual ensinou
diversas matérias além de história da arte. Fora o seu trabalho acadêmico, ela
ainda visitou a escola de arte do renomado pintor Willibald Von Leo
Lütgendorff-Leinburg e ali se especializou, principalmente, em copiar os
antigos mestres italianos. Pintaria seus primeiros retábulos para a Igreja
Coração de Jesus, na paróquia de Lübeck, alguns dos quais ainda se encontram em
bom estado de conservação. Sofrendo de uma doença pulmonar crônica veio a
falecer com apenas 35 anos de idade, em 29 de janeiro de 1916, em Lübeck
causando grande comoção a época. Ela mesclava seu dom natural de observar um
desenho simples o que a fez ser comparada muitas vezes com outras ilustradoras
como Kate Greenway e Elsa Beskow.
Sybille
Von Olfers – Wind Children.
Em
sua curta vida escreveu e ilustrou dez livros infantis Ficando muito conhecida
por seu livro “The Story of the Children Root”, título original, "Etwas von den Wurzelkindern" que publicou em 1906. O que nos cativa no livro “Etwas Von Wurzelkindern” (“algo sobre
crianças raiz”) é sem dúvida nenhuma a circunstância de segurança em que vivem
as personagens no ventre da Mãe Terra. Essas crianças, que despertam lentamente
para a vida crescem e se preparam para deixar o lar; seu destino: ganhar o
mundo para depois de um ciclo completo poder retornar. Desprendimento,
autodescoberta e o retorno a suas raízes. Em seus livros e ilustrações a
natureza se apresenta as crianças de forma antropomórfica¹,
sendo as histórias em sua maioria em forma de rima que nos contam a relação das
pessoas – em sua maioria crianças – com a natureza, simbolizada por figuras de
joaninhas, caracóis, coelhinhos, gnomos, duendes, assim como flores, flocos de
neve, gotas de chuva [...] ajudando as crianças a compreenderem os processos da
natureza de forma lúdica e imaginativa. Seus livros continuaram encantando
crianças e adultos por gerações com seu modo delicado e sensível, trazendo um
mundo imaginário pleno de simbologia para dentro de nossos corações.
The Root Children - Sybille Von Olfers.
The Root Children.
Ilustração - Sybille Von Olfers.
FELICITAS KUHN – ILUSTRADORA DE
LITERATURE INFANTIL – ÁUSTRIA
Ilustração - Felicitas Kuhn.
Nascida na Áustria, na linda cidade
de Viena em três de janeiro de 1926, também é conhecida pelo nome de Felicitas
Kuhnová. Ilustradora de livros infantis
na linha de contos de fadas e lendas, assim como livros onde os contos e
ilustrações são de natureza antropomórfica¹, ou seja, são contos de fundo
moral. Os livros de contos de Fadas (Märchen), Contos de Anões (Wichtel - und
Zwergebücher), ilustrados por ela alcançaram uma edição de mais de 900.000
exemplares. Além disso, suas ilustrações ornaram com muita beleza plástica
baralhos infantis, cartões de felicitações e de natal, (muito usados na época,
pois ainda se escrevia a mão, enviando cartões de felicitações para datas
importantes), calendários natalinos além de objetos decorativos. As técnicas
que mais utilizava eram o nanquim e a aquarela, que dominava com perfeição.
Livro ilustrado por Felicitas Kuhn.
Esta
filha de dentista formou-se na Escola Superior de Artes Gráficas e Instituto de
Pesquisas em Viena. Posteriormente, a ilustradora trabalhou no Museu de
História Natural, “Kunsthistorisches Museum” de Viena. Fora uma das artistas
gráficas que ilustravam as páginas da revista “Wunderwelt”, em circulação de
1948 a 1986. Nesta revista Felicitas Kuhn ilustrava os contos de fadas que
tinham destaque na publicação, para qual trabalhou até o ano de 1957.
Revista Wunderwelt.
Suas ilustrações são de um realismo
Naív, suas cores brilhantes não se misturam com frequência, sua aplicação quase
lisa, plana, sem muitos sombreados, com contornos nítidos e estrutura de tela
simples, lhe valeu algumas avaliações negativas por parte dos críticos de literatura
infanto-juvenil da época. Porém sua representação simples encontrou no universo
infantil a compreensão e o fascínio esperados, pois ela conseguia dar a suas
figuras o aspecto inocente necessário, tornando-as particularmente afetuosas e
adoráveis. Um dos seus pontos fortes são os desenhos naturalistas de flores,
rosas em particular, que representava com perfeição. Geralmente sentava-se no
início da manhã para pintar uma rosa e continuava retratando-a até ao anoitecer
para ter certeza de fazer nascer inalterável na ponta de seu pincel sua beleza
e nobreza. Deste trabalho surgiu uma série de cartões postais de rosas.
Ilustração - Felicitas Kuhn.
Ilustração - Felicitas Kuhn.
Ilustração - Felicitas Kuhn.
MILI WEBER – ARTISTA E ILUSTRADORA
DE LIVROS INFANTIS – SUÍÇA – 1891-1978.
Mili
Weber mit Ihrem Reh “ Fin”.
Nascida em Biel, no cantão de Berna
na Suíça em primeiro de março do ano de 1891, esta artista fascina por sua delicadeza de traços em aquarela e pela fluidez mágica que imprime as suas
pinturas. Ainda muito jovem começou a pintar e ilustrar todas as histórias que
ouvia ou lhe contavam, passando horas no quintal de sua casa envolvida pela sua
imaginação, rodeada de papéis, pincéis e cores. Sua meia-irmã, Anna-Haller,
dezenove anos mais velha, que se tornou uma grande artista e pintava flores foi
seu maior exemplo. Com ela, Mili começou a ter suas primeiras lições de arte.
Ilustração - Mili Weber.
Mili Weber sempre foi de índole simples, gostava de observar a natureza que a cercava na qual se inseria quase como se
formassem uma unidade. Suas pinturas
demonstram esta profunda ligação entre ela e o ecossistema. Formou-se professora
de jardim de Infância, na escola “Neue Mädchenschule Bern” em Berna, e em 1912
viajou com sua irmã para Munique, onde visitou a escola de artes do Professor e
artista H.Knirr, lá aprendendo a fazer Retratos (Portraits) e pintura figurativa. Após a eclosão da
Primeira Guerra Mundial, Mili e sua irmã Ana se refugiaram na Suíça, mais
precisamente em St. Moritz, onde o pai e o irmão construíram um belíssimo chalé
que viria a lhe servir de atelier e lar até o fim de seus dias. Esta casa
chamada “MILI-WEBER HAUS” hoje é um museu e abriga a história de sua vida, suas
obras e obras de sua irmã Ana Haller.
Mili Weber Haus.
Mili Weber Haus.
Mili, cada vez mais foi se dedicando aos temas
de contos de fadas e lendas que representava em tons suaves, pinceladas
tranquilas interpretando o mundo mágico a sua maneira, retratando um mundo bom,
bonito e sem violência, um mundo no qual segundo suas crenças as crianças
pequenas necessitam estar inseridas enquanto pequenas, um mundo belo. Pintou
murais, afrescos, quadros a óleo, retratos (Portraits) e muitas aquarelas, com
estas últimas ilustrando diversos livros infantis. Além disso, ela ainda
compunha músicas e escrevia textos e pequenos contos.
Ilustração - Mili Weber.
Com o avançar de sua idade uma doença
em seus olhos lhe impossibilitou de continuar pintando e com o tempo uma névoa
acinzentada foi tomando conta de sua visão; porém ela nunca perdeu seu sorriso
iluminado e ao ser questionada em como se sentia em não poder ver mais suas
pinturas ela simplesmente respondeu: "não preciso vê-las, carrego-as no meu
coração [...]"
Mili Weber.
¹Antropomorfismo é uma forma de
pensamento que atribui características ou aspectos humanos a deuses, elementos
da natureza, animais e constituintes da realidade em geral. Uma outra acepção
de Antropomorfismo refere-se a dar característica humanas a animais ou objeto
inanimados usado originalmente em contos morais como os contos de fadas, e
posteriores livros infantis como por exemplo Peter Rabbit, criado por Beatrix
Potter em 1893. Tem tido recentemente uma grande expansão graças à criação do
Desenho Animado no final do século XIX e inicio do século XX e com o advento
dos grandes estúdios de animação, como o de Walt Disney, Warner Bros, Tex Avery
e os estúdios dedicados a Televisão, como o Estúdio Hanna-Barbera.
"Feliz, feliz Natal, a que faz que nos lembremos das ilusões de nossa infância, recorde-lhe ao avô as alegrias de sua juventude, e lhe transporte ao viajante a sua chaminé e a seu doce lar!" - Charles Dickens
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