O período de Natal é a época em que
os cristãos celebram o nascimento de Jesus, o qual, acreditam cumprir uma profecia do Antigo Testamento de que um
Messias, o Cristo, viria ao mundo. O
nascimento de Jesus Cristo e os acontecimentos que o cercam são tema de
inúmeras obras de arte através da história. Convido-os a seguirem a história do Natal por meio de obras de arte.
ANUNCIAÇÃO:
Fra
Filippo Lippi - The Annunciation – 1450
Nessa representação lindamente
simétrica da Anunciação, o anjo Gabriel é apresentado à esquerda com asas de
penas de pavão. Tradicionalmente se considerava que, no momento da chegada do
anjo Gabriel, Maria estivesse lendo a profecia no livro do Antigo Testamento de
Isaías o qual dizia que uma virgem daria à luz um filho.
Fra
Filippo Lippi - The Annunciation – 1450
No topo da imagem a mão de Deus pode
ser vista enviando o Espírito Santo em forma de pomba, em direção ao ventre de Maria. A parte superior curva do
painel indica que ele pode ter sido concebido como uma pintura de móveis, ou
talvez para ser pendurado acima de uma porta, provavelmente em um palácio
pertencente à família Medici.
Abaixo do vaso com lírios, um
símbolo da pureza de Maria, observamos entalhado na base um alto relevo de três
penas dentro de um anel de diamantes. Este era um emblema adotado por vários
membros da família Médici. Podemos ainda observar o anjo Gabriel ofertando um
ramo de lírios a Virgem Maria.
O
SONHO DE SÃO JOSÉ:
O fato de ser impulsionado para
dentro do papel de "pai terreno" do filho de Deus deve ter sido um choque para José.
O Evangelho de São Mateus descreve a visita de um anjo a José enquanto este sonhava lhe conferindo um pouco mais de conforto e paz de espírito.
Philippe
de Champaigne, The Dream of Saint Joseph, 1642-3
No quadro podemos observar José
adormecido em uma bela cadeira de braços em madeira nobre, talvez confeccionada
por ele mesmo. As ferramentas de seu ofício como carpinteiro encontram-se ao
seu lado no chão assim como suas sandálias.
Um anjo que flutua no ar sob sua
cabeça vem em sonho lhe dizer que pode se tranquilizar e que não deve hesitar
em receber a Virgem Maria e seu filho como sendo sua família, pois que o menino
que ela conceberá é de fato filho de Deus. A própria Virgem Maria, sentada mais
ao fundo parece sentir a presença do anjo.
Detalhe
anjo.
O artista Philippe de Champaigne
parece ter escolhido deliberadamente uma composição simples com blocos de cores
vivas de modo que a pintura, que foi destinada a uma capela mal iluminada na
igreja agora demolida do ”Minimes” em
Paris, pudesse ser facilmente vista.
Vue
générale de l'église couvent des Minimes de la Place Royale à Paris.
NATIVIDADE:
No evangelho de Lucas, José e Maria
viajam até Belém, cidade dos parentes de José, de forma a serem incluídos nos
censos. Ao chegarem a Belém, não
encontram vagas em nenhuma pousada e se abrigam em um estábulo onde Maria dará
a luz a Jesus.
Geertgen
tot Sint Jans, The Nativity at Night, possibly about 1490.
A pintura Geertgen tot Sint Jans é
um dos primeiros exemplos de “chiaroscuro” destinando-se a acentuar os
contrastes entre a luz real e a luz sobrenatural (Claritas Dei – Divina
Claridade). A luz criada pelo homem é deplorável e não pode competir com a luz
divina.
Neste belo presépio, a manjedoura
incandesce de uma luz sobrenatural irradiada pelo menino Jesus que não está
envolto em tecidos tradicionais, e sim, se encontra nu. Jesus é descrito na
Bíblia como a luz da luz - "a luz verdadeira que ilumina todo homem que
vem ao mundo" (João 1: 9). Mas a ideia da criança Cristo que ilumina a
cena da Natividade vem dos escritos do século 14 de Santa Brígida da Suécia.
Ela escreveu que em suas visões à luz da criança recém-nascida era tão
brilhante "que o sol não era comparável a ele" e eclipsou a luz da
vela de São José.
A luz ilumina a noite muito escura, tão escura
que mal se pode visualizar José nas sombras em pé ao fundo a direita da cena,
em devoção. Nesta pintura, ele aparece como se tivesse sido originalmente
retratado com uma vela que desapareceu após as restaurações iniciais. No
entanto, você ainda pode ver sua mão parecer proteger alguma coisa, e sua face
iluminada por uma luz fraca avermelhada que difere da fonte divina de luz que
emana da manjedoura.
Detalhe
rosto de São José.
Suavemente o boi e o jumento se
destacam da escuridão bem em frente a manjedoura observando este pequeno
milagre de luz.
A luminescência se faz mais presente
nos rostos de Maria e dos anjos, seres considerados espirituais e santos que se
encontram em estado de adoração.
Além do presépio, podemos ver
pastores com seus rebanhos em uma colina a distância. Eles estão agrupados em
torno de um fogo que lança um brilho avermelhado, porém a luz que os ilumina é a
que emana de um anjo que paira nos céus acima deles trazendo-lhes as boas
novas.
Detalhe – pastores e anjo.
OS
PASTORES:
Pastores vigiavam seus rebanhos na
escura noite em Belém quando um anjo iluminou os céus e lhes anunciou o
nascimento de Jesus Cristo.
Guido
Reni, The Adoration of the Shepherds, about 1640.
A obra acima datada de 1640
possivelmente fora uma encomenda feita ao artista Guido Reni pelo príncipe Karl
Eusébio de Lichtenstein (falecido em 1684). Em sua pintura Reni assume uma perspectiva mais elevada na qual
os anjos equilibram a composição refletindo ainda a luz vinda de Cristo recém
nascido. Podemos observar os pastores, as pessoas humildes, jovens, velhos e
crianças agrupadas em volta da criança divina, maravilhadas e em adoração.
Detalhe adoração pastores.
Um exército de anjos ostentam um
pergaminho com as palavras “Gloria In Excelsis Deo” (Glória a Deus nas alturas) da melodia que eles cantaram aos pastores
para anunciar o nascimento de Jesus.
Anjos - detalhe.
A esquerda de Maria com as mãos
unidas em oração encontramos José envolto em um manto cor de açafrão
simbolizando a divindade e a sabedoria. Assim como Maria veste o manto azul que
simboliza sua natureza espiritual e sua
conexão com o mundo superior.
Detalhe José e Maria.
OS
REIS MAGOS:
Humildes pastores não foram, porém
os únicos visitantes a viajarem de longe para ver o bebê especial.
Jan Gossaert, The Adoration of the Kings, 1510-15.
Os homens sábios vieram do Oriente a
Jerusalém, teriam vindo para adorar o Cristo, nascido Rei dos Judeus, sempre
seguindo uma estrela especial e luminosa a lhes indicar o caminho. Talvez, os
sábios fossem astrólogos ou astrônomos, já que tinham conhecimento da estrela
que os guiou até a região onde nascera Jesus, dito o Cristo. Os reis magos
também sabiam se tratar do nascimento de um rei e por isto foram primeiro ao
palácio do cruel rei Herodes em Jerusalém na Judeia. Perguntaram ao rei sobre a
criança. Este disse nada saber, porém alarmou-se e sentiu-se ameaçado,
pedindo aos magos que, se o encontrassem voltassem para lhe contar, pois queria
adorá-lo também, embora suas intenções fossem as de matá-lo. Podemos observar esta estrela na
obra de Jan Gossaert posicionada na parte superior da pintura diretamente acima
do Menino Jesus, e um pouco abaixo veremos a pomba branca do Espírito Santo,
sinal de Deus Pai.
Os três sábios são mostrados aqui ricamente
vestidos e ornamentados oferecendo presentes valorosos ao menino Jesus. Suas
roupas luxuosas contrastam com as ruínas que envolvem os acontecimentos. Este tipo
de cenário era comum ser retratado de forma a acentuar as divergências
existentes, e, alguns artistas da época simbolizavam através destas obras o que
na visão deles foi o colapso da antiga ordem pagã dando início ao cristianismo. Os sábios trouxeram ouro, incenso e
mirra, (uma resina perfumada utilizada para embalsamar os mortos, símbolo do
sacrifício futuro de Cristo). Gaspar se
ajoelha diante da Virgem apresentando moedas de ouro em um cálice. Melchior
está atrás dele e Balthazar, o Rei Mouro, fica à esquerda.
Oferenda
três reis, detalhe.
"Entrando na casa, viram o menino,
com Maria sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros,
entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra. Sendo por divina
advertência prevenidos em sonho a não voltarem à presença de Herodes,
regressaram por outro caminho a sua terra."(Mateus 2:11-12)
A
FUGA PARA O EGITO:
Quando Herodes percebeu que havia
sido enganado pelos reis magos, ele ficou furioso e ordenou que fossem mortos todos
os meninos com menos de dois anos em Belém e nas redondezas, contando com a
referência de tempo que lhe havia sido passada pelos magos. Neste ponto se
cumpriu então a profecia de Jeremias (Mateus 2:16-17). Após a partida dos
sábios, o anjo do Senhor voltou a José, em sonho revelando-lhe o perverso plano
de Herodes de procurar Jesus para matá-lo e assim José foge com Maria e Jesus
para o Egito.
The
Flight into Egypt about 1515 - Work of the Master of 1518 - This painting is part of the group: Two
Panels from an Altarpiece. Oil
on oak.¹
Maria, José e Jesus são retratados viajando para o Egito. Em segundo plano são mostrados os milagres do milho e da
Estátua (lendas associadas com a Fuga para o Egito). No Milagre do Trigo, os
soldados em perseguição interrogam os camponeses enquanto a família estava
passando. Os camponeses afirmam, verdadeiramente, que estavam apenas semeando o
trigo na ocasião, quando ele milagrosamente brota e cresce. No Milagre do
Ídolo, uma estátua pagã cai de seu pedestal quando o Menino Jesus passa por ela
sinalizando novamente a ascensão do Cristianismo e a queda, segundo a crença
cristã, do paganismo, ou seja, da antiga religião.
Milagre
do milho.
Perto das pequenas casas ao fundo uma
cena horrível está prestes a acontecer, o massacre dos inocentes, a matança
ordenada pelo rei Herodes de todas as crianças menores de dois anos de idade.
Vemos as crianças sendo tiradas de seus pais desesperados.
Detalhe do massacre dos inocentes.
Herodes esperava desta forma,
garantir que o bebê Jesus fosse morto. Felizmente podemos observar que a
criança continua segura embalada nos braços de Maria sendo amamentado, enquanto José levando a sua família em
segurança para longe daquele lugar. A pintura mostra José levando mantimentos.
Tem um chapéu de palha atrás de sua cabeça na altura exata onde se poderia
intuir um Halo sagrado.
¹ O nome the Master of 1518 -o Mestre
de 1518, é aplicada a um pintor a quem
muitas obras da Antuérpia no início do século 16 tem sido atribuídas. A data de
1518 se refere ao retábulo na igreja de St Mary, Lübeck do qual a Fuga para o Egito faz parte.
Através da leitura minuciosa dos quadros acima podemos ver descrita em detalhes e belas nuances a história da natividade e do nascimento de Jesus. Simplesmente fascinante!
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