Joseph's Tribe - Marc Chagall.
“Stained Glass art is painting in light”
- Marc Chagall
Os três vitrais concebidos por Marc Chagall para a Catedral
de Reims.
"Em nossa vida há uma única cor, como na paleta de um
artista, que fornece o sentido da vida e da arte. É a cor do amor." - Chagall.
“In our
life there is a single colour, as on an artist’s palette, which provides the
meaning of life and art. It is the colour of love.” – Chagall.
Chagall
Stain Glass artwork.
Marc Chagall
criou seu próprio mundo colorido de mitos e magia, repleto de estranhas
criaturas e eventos miraculosos. Ainda assim, sua arte se baseou essencialmente
em memórias e experiências reais, metamorfoseadas por ele a partir de suas
lembranças e impregnadas de imaginação. Um homem quase que inteiramente
absorvido por suas memórias, suas criações e sua vida familiar, destinado a
confrontar-se com as mais variadas culturas, a atravessar guerras e revoluções e
a passar por fugas e pelo exílio. Consequentemente, em qualquer relato sobre
Chagall, a arte, a origem judaica e a autobiografia estão intimamente
interligadas. Suas obras atestam a sua profunda religiosidade e uma sensibilidade
para com as questões humanitárias, as alegrias, tristezas e aspirações daqueles que se encontram de
alguma forma no caminho da fé.
Jeremiah
by Marc Chagall, Union Church of Pocantico Hills, New York.
Marc,
Bella and Ida in Paris – Chagall’s family.
Chagall
Fenster in St. Stefanskirche in Mainz, Deutschland.
De acordo com o historiador de arte Michael J. Lewis, Marc Chagall
foi considerado "o último sobrevivente da primeira geração de modernistas
europeus" e é respeitado como um dos artistas judeus mais proeminentes do
mundo. Foi um artista completo, de alma sempre inquieta valendo-se dos mais diversos meios artísticos como a
pintura, a ilustração, a cerâmica, o mosaico, os vitrais e até mesmo a
tapeçaria para dar vazão a tudo aquilo que habitava sua mente e sua alma, se
tornando assim um dos maiores nomes
mundiais da arte contemporânea. Entre as suas muitas obras de arte podemos destacar
os vários vitrais criados por ele para inúmeras catedrais mundo afora.
Joel
by Marc Chagall, Union Church of Pocantico Hills, New York.
Marc
Chagall - 1963/66, stained glass window with crucifixion. Union Church of Pocantico Hills.
Em 1952, Chagall começaria a se interessar por este novo
modo de expressão artística, ele escreve: “O mundo em que vivo é fechado, abrir
uma janela satisfaz o requisito a mais liberdade. O vidro nos faz ver o mundo a
partir de dentro, revelando-se a nós através da luz.”
Este meio artístico permitiu-lhe expressar seu desejo de
criar cores intensas e viçosas, utilizando-se da luz natural e da refração
interagindo entre si em constante mudança. Tudo, desde a posição de onde o
espectador se encontra até o tempo lá fora iriam alterar o efeito visual
fazendo dele algo breve, raro. Não haveria um momento igual ao outro ao se
observar os vitrais que ele viria criar e isto o fascinava enquanto artista.
Observem a seguir o mesmo vitral “La Paix” em quatro
momentos diferentes:
Chapelle
des Cordeliers Sarrebourg – Vitraux Marc Chagall.
Chapelle
des Cordeliers Sarrebourg – Vitraux Marc Chagall.
Chapelle
des Cordeliers Sarrebourg – Vitraux Marc Chagall.
JERUSALEM WINDOWS
Ao aceitar criar os doze vitrais representando a s doze
tribos de Israel, para a sinagoga do Hadassah Medical Center encomendados a ele
em 1958 pela então presidente do centro, Myriam Freund e pelo arquiteto Joseph
Neufeld, Chagall teria exclamado: “Eu senti como se meu pai e minha mãe
estivessem a me observar por cima dos meus ombros e atrás deles os judeus. Os milhões que sumiram ontem e há
mil anos atrás.” (I felt my
father and my mother were looking over my shoulder, and behind them were Jews,
millions of other vanished Jews of yesterday and a thousand years ago.)
Chagall - Windows-Hadassah - Jerusalem.
Entre 1960 e 1961 criou os magníficos e mundialmente famosos
vitrais que foram instalados na sinagoga do novo Centro Médico da Universidade
Hebraica Hadassah, Jerusalém –
Israel, medindo aproximadamente 3,35 m de altura por 2,40m de largura. Estes
vitrais são considerados por muitos como uma das maiores realizações de Chagall
na arte vitral.
Maquetes
dos vitrais das 12 tribos de Israel - Hadassah Medical Center/ Marc
Chagall.
Estas obras primas em vidro são uma verdadeira alquimia
cromática. Os vitrais em quatro tonalidades dominantes; azul, vermelho, amarelo
e verde, se destacam nos muros da sinagoga. Para que a luz passasse pelos vidros como se fosse uma suave canção
atingindo um grau de fascinação multicor Chagall procurou se utilizar de
inovações tecnológicas que dariam mais leveza ao resultado final.
Hadassah
Medical Center, Jerusalem, Chagall Windows.
Chagal’s
Jerusalem Windows - Hadassah Medical Center.
Na parede norte da sinagoga estão retratadas as tribos de
Reuben (azul claro), Shimon (azul escuro) e a tribo de Leví (amarelo claro).
Vitral
Tribo Reuben
Vitral
Tribo Leví.
Na parede oeste podemos apreciar os vitrais representando as
tribos de Yehuda (vermelho granada), Zevulun (vermelho vivo) e lssa'har (em verde
claro).
Vitral
Tribo Zevulun.
No muro leste da sinagoga veremos os vitrais retratando as
tribos de Dan (azul), Gad (verde escuro) e Asher (em verde claro).
Vitral
Tribo Dan.
Vitral
tribo Asher.
E por final o muro sul exibe os vitrais que correspondem as
tribos de Naphtali (Amarelo limão), Yossef (amarelo ouro) e Benjamim (azul).
Como podemos observar cada janela de vidro exibe uma cor
diferente, representando os microcosmos do mundo característico e maravilhoso de
Marc Chagall, onde, entre a realidade e imaginação, vislumbra-se seu profundo
sentimento de identificação com a história e a cultura do povo judeu. Inspirado
pelas Sagradas Escrituras, ali se encontram retratados entre símbolos e figuras
imaginativas de flores e animais, os doze filhos de Jacó e as doze tribos de
Israel. Uma técnica especial utilizada pelo artista, na aplicação da cor
permitiu-lhe a utilização de três cores diferentes em cada laje, sem exigir a
separação pelo chumbo tornando o trabalho mais etéreo. Concluídos em 1961, os
impressionantes vitrais já haviam sido expostos em Paris e, em seguida, no
Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, antes de serem instalados permanentemente em Jerusalém, em fevereiro de 1962.
Marc
Chagal trabalhando em um dos vitrais da sinagoga do Hadassah Medical Center – Jerusalém.
Sinagoga
do Hadassah Medical Center – Vista de fora.
Depois do grande sucesso de suas “janelas de Jerusalém”,
Marc Chagall recebeu muitas encomendas para decorar igrejas e sinagogas em toda
a Europa, EUA e Israel. "Este é o meu modesto presente para o povo judeu que
sempre sonhou e acreditou no amor bíblico, na amizade e na paz entre todos os
povos. Esta é a minha oferenda para as pessoas que aqui vivem há milhares de
anos e assim continuarão vivendo entre os outros povos semitas." (Marc
Chagall, 06 de fevereiro de 1962).
Vista
interna Sinagoga do Hadassah Medical Center.
IGREJA FAUMÜNSTER /– FRAUMÜNSTER FENSTER
(CHURCH OF OUR LADY).
Também podemos admirar os vitrais criados por Marc Chagall
para a igreja de Fraumünster, que
ainda possui outros vitrais feitos pelo artista suíço, Augusto Giacometti. A Fraumünster
é um dos principais pontos turísticos da cidade de Zurique sendo a principal
igreja da mesma. Essa igreja teve um importante papel durante a Reforma
Protestante, empreendida na Suíça por Ulrich
Zwingli. As pinturas de seus vitrais para a Igreja de Fraumünster irradiam cores
inigualáveis e de intensidade
penetrante que nos remetem as áreas mais
profundas de nossas almas. Seus desenhos são ao mesmo tempo lúdicos e sérios e
testemunham uma experiência religiosa profunda reproduzindo a mensagem bíblica
em toda a sua experiência sensitiva.
Church of Our Lady (Fraumünster).
Giacometti
Fenster/ Vitral de Augusto Giacometti.
Three
of the magnificent Chagall windows at the Fraumüster,
Zürich/ Schweiz.
O coro românico da abadia data de 1250 e é extremamente alto
(18 m), possui um design belíssimo dentro de sua simplicidade o que por si só já
o faria digno de ser apreciado, porém ainda inclui cinco grandes vitrais
desenhados pelo artista Marc Chagall instalados em 1970.
Nesta belíssima obra nos salta aos olhos uma particularidade,
a da clara e estudada divisão de cores. Enquanto que as cores primárias, azul,
amarelo e vermelho são por Chagall utilizadas nas janelas laterais, a cor
secundária verde, mistura das duas primárias, azul e amarelo, determina a cor
de fundo da janela central. Além da aparência harmônica entre as cores, Chagall
faz chegar ao espectador todo o conteúdo da história da salvação cristã: Desde
a origem absoluta da criação, mencionando ainda os judeus patriarcas, os
profetas, os reis, a paixão e ressurreição de Jesus Cristo para um novo mundo
de Deus onde cada vitral possuirá sua cor dominante.
Coro
românico da abadia de Fraumünster com os vitrais de Chagall.
O vitral vermelho sangue, chamado de “Propheten Fenster” que
fica na parede norte á esquerda, retrata
em sua parte inferior o profeta Eliseu, observando a Ascensão do profeta
Elias em uma carruagem de fogo aos céus. Acima imerso em um profundo azul celestial encontra-se sentado o profeta
Jeremias.
Das
três janelas principais a da esquerda, intitulada “Jakobs Fenster”, representa
a luta do patriarca com o anjo e seu sonho de uma escada para o céu.
Cristo, ilustrando várias cenas de sua vida. A janela
central "Christus Fenster" em última análise mostra José, de pé ao
lado de uma grande árvore - a árvore da vida, da família e do Salvador. Em seus
galhos mais altos vislumbramos Maria segurando o menino Jesus, o Cordeiro de
Deus paira a seus pés. Cenas da vida de Jesus e parábolas culminam em uma
representação associativa da crucificação, uma cruz é quase visível, e Cristo
paira já isento do mundo em direção a uma fonte luminosa acima dele.
O vitral à direita em cores amarelas chamado de “Zion Fenster”
nos revela um anjo a tocar a trombeta anunciando o início da eternidade e a
descida da Nova Jerusalém dos céus, no plano logo abaixo dele observamos um
reluzente Rei Davi e sua Batsheva (Betsabá).
Na parede sul observamos o vitral “Gesetzes Fenster” retrata
Moisés observando a desobediência e o
sofrimento de seu povo, o qual está a seguir um cavaleiro em direção à guerra. Abaixo
Isaías pode ser visto nos braços de um anjo enquanto se prepara para anunciar a
sua mensagem de paz para o mundo.
A história que se conta sobre os vitrais de Chagall para a abadia de Fraumünster é no mínimo curiosa. Diz-se que o pastor da Igreja nos
anos 60 tencionava decorar a mesma com novos vitrais. Então aconteceram vários
debates com a comunidade até que o pastor visitou uma exposição de Chagall no Kunsthaus em Zurique. Ele amou o
trabalho do artista e escreveu uma carta para o mesmo, que só foi respondida
seis meses depois, sem nenhuma afirmação. Chagall queria antes visitar a igreja
e quando a visitou pela primeira vez em 12 de setembro de 1967, deu início a um
clima de tensão e expectativa entre os anfitriões, pois não lhes disse uma só
palavra e foi embora. Na verdade havia ficado chocado com a altura e a
estreiteza dos vitrais a serem por ele confeccionados, mas nunca dividiria
estes seus dilemas com alguém que não fosse também artista, segundo ele, não
compreenderiam. E acabaram sendo justamente estas proporções desmedidas que
evocariam de sua alma uma engenhosa composição de vitrais para a Igreja .
Estudo
de Chagall para os Vitrais da Fraumünster.
Desapareceu por mais
seis meses e quando reapareceu informou a todos que as maquetes e esboços dos vitrais
estavam prontos. O pastor e a comunidade da igreja ficaram preocupados porque
não houve nenhuma negociação sobre preço e quando o indagaram sobre o mesmo,
Chagall lhes informou apenas que antes de lhes dizer uma quantia, eles deveriam
primeiro ver os vitrais! Quando eles
viram os esboços e maquetes dos vitrais, Chagall perguntou a eles quanto
achavam que valia o seu trabalho. Dizer um preço muito alto seria um prejuízo
enquanto que um preço muito baixo seria uma ofensa às obras de Chagall. Então
se reuniram e ofereceram 150.000 Francos. De fato era um valor simbólico, tendo
em vista o grande artista que os criou, mas Chagall aceitou o valor
prontamente. Ainda assim, a igreja não tinha todo esse dinheiro e após muita controvérsia,
dois doadores anônimos da cidade pagaram pelos vitrais. Tudo o que se sabe
sobre eles é que os mecenas são um casal que ficou rico no setor da construção
civil e permanecerão anônimos até o momento de sua morte.
Marc Chagall e Senhora Marq (mestre vitral) trabalhando em
um dos vitrais da Igreja de Fraumünster.
Stained
Glass Fraumünster by Marc Chagall.
Fraumünster Innen Ansicht.
Como pintor, poeta e sonhador, Chagall tornou-se através de
suas obras o incentivador das crenças judaico cristãs, e quiçá indo além delas, levantando o invisível véu das inúmeras
dimensões e eternizando-as em forma de arte.
Marc
Chagall.
De estarrecedora beleza>Amei.
ResponderExcluirDeslumbramento puro!
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