"Bordar é pintar com
agulhas." – ditado romano.
Bordado Hindu - Região Kutch.
A partir de um passeio ao Shopping onde pude observar uma
forte tendência à volta do bordado étnico, não apenas no vestuário mais também
em acessórios, me veio a ideia de pesquisar e me aprofundar um bocadinho mais
nesta arte que é o bordado. Eis aqui o que descobri:
Vitrine
da Arrezzo Shopping Iguatemi. (Foto: Vanessa Corecco Calado)
(Foto: Vanessa Corecco Calado)
Jaqueta
étnica.
Vitrine
Lojas C&A Shopping Iguatemi. (Foto: Vanessa Corecco Calado)
Bordar é a arte de ornamentar os tecidos com fios
diferentes, formando desenhos. Esse trabalho executa-se à mão ou à máquina, com
agulhas de várias grossuras e feitios, inclusive as de gancho ou crochê, em
alguns trabalhos são utilizados bastidores de diversos tamanhos. Os fios
empregados para bordar podem ser os mais variados: de algodão, seda, linho,
ráfia, ouro e prata, e ainda de fibra sintética, náilon, acrílico e celofane. O
bordado, além dos fios, complementa-se com outros elementos que vão de materiais
preciosos, como pérolas, pedras preciosas, cristais Swarovski, lantejoulas e
canutilhos, até os mais rústicos, como sementes, conchinhas, palha, contas de
vidro ou de madeira etc. O bordado pode ser plano ou em relevo.
Camille
Monet and a Child in the Artist's Garden in Argenteuil – 1875.
Detail of
the embroidery on the felted wool cape with metallic gold cord, c. 1900.
Elaborate
gold embroidery on high-ranking French officer's uniform.
Experts
who work for Channel - Chanel beads embroidery.
Zardozi
embroidery literally means “sewing with
gold” and is originally a Persian art form. It involves creating designs with
gold, silver and colorful metal threads.
19th
century Culture Albanian Medium silk, metal, wool embroidery Vest.
Os registros históricos do ponto cruz remontam a
pré-história onde tem início a História da Arte de bordar. No tempo em que os
homens habitavam cavernas, o ponto cruz era usado na costura das vestes, feitas
de peles de animais curtidas, que as deixavam maleáveis. Arqueólogos
encontraram agulhas com idades de 40 mil anos em cavernas paleolíticas,
geralmente feitas de marfim de mamute, ossos de rena ou presas de leão marinho.
Com estas agulhas e com a utilização de tripas e tendões secos de animais ou
fibras vegetais, (hoje usamos as linhas) foi possível costurar pedaços de peles
e moldá-los ao corpo. O resultado desta forma de bordar ainda pode ser visto
nas vestimentas dos esquimós ou Ínuits.
Existem relatos de que o bordado seja tão antigo quanto à
humanidade e de que o bordado com aplicações já era apreciado pelo homem há 30
mil anos a.C.
Os mesmos baseiam-se em uma descoberta arqueológica feita na
Rússia onde foi encontrado um fóssil
cujas vestes estavam preservadas por conta do frio ao qual ficaram expostos, e
se encontravam adornadas com grânulos de Marfim
bordado.
Por terem sido
manufaturados em material perecível, os tecidos mais antigos bordados não se
conservaram. Para estudá-los é preciso recorrer à documentação fornecida por
monumentos antigos, em cujos baixos-relevos, esculturas, pinturas e gravuras
são amplamente representados.
Agulhas
de ossos provenientes de Shuidonggou 12. (Imagem de YI Mingjie)
As peles eram presas ao corpo com as próprias garras dos
animais ou atadas umas às outras com nervos, tendões e até fios da crina ou do
rabo dos cavalos. (Reconstruction
of Neanderthal and Cro-Magnon).
Ínuits ou
Esquimós em vestimentas tradicionais.
The oldest
leather shoes found was in Armenia in 2008, in a cave complex named Areni-1, it
is said it dates back to approximately 3500 B.C.
The top and bottom close-up images show in detail how the shoe was laced together with a strip of leather. The image on the right shows its smooth sole.
Museu Nacional da Dinamarca - Copenhague -
Antiga Vesimenta Inuit.
Antiga Vesimenta Inuit.
Como a maioria das outras artes têxteis e dos trabalhos com
agulhas, várias técnicas da arte dos bordados surgiram no Oriente Médio. Nas
civilizações antigas que se desenvolveram nas margens do rio Eufrates, a arte
do bordado foi muito cultivada. Nas evidências históricas e arqueológicas
disponíveis fora encontrado intacto um bordado completo feito em ponto cruz
aplicado sobre linho, em uma tumba do alto Egito, preservada pelo clima seco do
deserto, que data aproximadamente de 500 d.C.
Agulhas
e material de bordado antigos.
Fragment of
Scarf or Cover - Date: 15th century - Linen, embroidered in silk and metal thread
– Egypt - The Metropolitan Museum of Art (MMA), New York.
Fragment of
Blazon - 15th century - Egypt - Leather,
metal wire, wool, and cotton embroidery - The Metropolitan Museum of Art (MMA), New York.
Os egípcios foram considerados, como a maioria dos povos do
Mediterrâneo, artistas talentosos. Nas classes altas e mais concretamente o
faraó e os que frequentavam a sua corte, usavam uma túnica longa de linho muito
fino e transparente, denominada Kalasyris (masculina ou feminina), ornamentada
com bordados a ouro e pedras preciosas especialmente turquesas e lápis-lazúlis.
O Chanti (primeiro
avental do qual se tem registro na
história da moda) era uma vestimenta mais básica, usada por homens como uma
saia e por mulheres, cobrindo todo o corpo. O modelo original era de tecido, geralmente
linho ou algodão, usado como tanga e preso por um cinto, que terminava em banda
pendente na parte frontal. Para Faraós e Dignitários, a peça era pregueada e
bordada com motivos típicos da cultura egípcia.
O bordado fino se desenvolveu, também, na Pérsia, na Babilônia, na Palestina e na Síria. Os materiais usados eram os mais
inusitados, aqueles que fossem mais facilmente encontrados, como fragmentos de
ossos, pérolas de marfim (chifres), conchas, asas de insetos, cabelos e peles
de animais. A riqueza de um modelo dependia principalmente da criatividade de
quem executava o trabalho. Pela sua antiguidade, o bordado pode ser considerado
uma das primeiras manifestações das artes plásticas.
Scraps
of antique embroidered garments - Coptic community in Egypt.
Indumentárias bordadas, antigo Egito e Assíria.
Para os Incas, as roupas tinham um valor fundamental, elas
demonstravam hierarquia e a posição social que a pessoa ocupava, tendo o mesmo
efeito das joias, ou seja, quanto mais nobre, maior a complexidade da confecção
de sua vestimenta, suas cores, seu formato e a qualidade do tecido. Os nobres
Incas usavam roupas chamadas Cumbi que eram feitas com fibras de camelídeos
(lhama, alpaca, guanaco ou vicunha) por tecelões muito habilidosos. Em outras
ocasiões as roupas tinham um valor sagrado, pois eram objetos ritualísticos.
Isso pode ser constatado com a descoberta das múmias Incas em Paraca que estavam envoltas em mantos de cores vivas e bordados zoomórficos, revelando a importância da vestimenta para os povos dos Andes, visto que os Incas herdaram esse costume das civilizações anteriores. Os registros da arte de confeccionar roupas nos Andes são anteriores à metalurgia ou à cerâmica. Na caverna de Guitarrero foram encontrados tecidos feitos com fibras de vegetais que datam de 5.780 a.C., logo, produzir vestimentas é um valor cultural enraizado nos Andes e que permaneceu e ganhou força e importância a cada geração, pois vemos que eles não produziam apenas roupas para cobrir o corpo, mas as consideravam um adorno sagrado e de relevância social.
Isso pode ser constatado com a descoberta das múmias Incas em Paraca que estavam envoltas em mantos de cores vivas e bordados zoomórficos, revelando a importância da vestimenta para os povos dos Andes, visto que os Incas herdaram esse costume das civilizações anteriores. Os registros da arte de confeccionar roupas nos Andes são anteriores à metalurgia ou à cerâmica. Na caverna de Guitarrero foram encontrados tecidos feitos com fibras de vegetais que datam de 5.780 a.C., logo, produzir vestimentas é um valor cultural enraizado nos Andes e que permaneceu e ganhou força e importância a cada geração, pois vemos que eles não produziam apenas roupas para cobrir o corpo, mas as consideravam um adorno sagrado e de relevância social.
Múmia encontrada em Paraca – Peru envolta em manto bordado.
Manto
bordado pertencia a Atahualpa (último Imperador Inca) - Peru.
Na China, o bordado
com fios de seda é passado de mãe para filha, pelo menos há 3.000 anos. Documentos
históricos registram o uso do bordado na China já em 2.225 a.C. Descobertas
arqueológicas, entretanto, situam os inícios do bordado em algum ponto durante
a dinastia Shang (1766 a.C. a 1122 a.C.). A beleza dos bordados chineses
espelham a delicadeza e a maestria deste povo que bordava com fios de seda
multicoloridos. Durante a dinastia Han (202 a.C.-220 d.C.), essa forma de arte
era vista como um habilidade a cultivar e era uma indicação do grau de educação
da mulher. Moças refinadas eram cuidadosamente treinadas para usar
habilidosamente a agulha e linhas de bordar. Em 1911, bordados chineses com
fios de seda foram exibidos em Torino, na Itália, recebendo altas honras e
reconhecimento. A partir daí, o bordado com fio de seda passou a ser respeitado
no cenário mundial como arte, porque combina perspectiva artística com habilidade
em nível altamente elevado.
Durante a violenta Revolução Cultural (1966 - 1976) levada
adiante pelo Partido Comunista Chinês, a arte do bordado com fios de seda quase
desapareceu. Nesse período, as artes de origem tradicional foram proibidas e tiveram
suas obras destruídas. O bordado com fios de seda, a pintura, a caligrafia e
outras formas de arte tradicionais foram desaprovadas pelo regime comunista da
época. As formas de arte e expressão cultural
tradicionais foram rotulados de “burguesas” e em desacordo com uma visão
coletiva. Oficinas de bordado foram abruptamente fechadas ou destruídas, e suas
mestres-bordadeiras foram forçadas a carpir terra como camponesas do mesmo modo
que os outros artistas e intelectuais da época. Criar coisas belas foi
considerado frívolo na visão comunista. As coisas e as roupas eram feitas
apenas para o trabalho duro e para ter durabilidade, não deviam ter adornos,
enfeites e bordados. Com a Revolução Cultural, dentro de uma geração, a arte do
bordado tornou-se mera lembrança na China.
Na década de 1980, o regime comunista, para sobreviver,
precisou abrir economicamente a China para o mundo. Assim, a paixão pela arte
tradicional, que tinha sido reprimida, teve licença para ressurgir e respirar.
Mais uma vez, impulsionada pela instrução individual, as sofisticadas técnicas
de trabalhar com o fio de seda foram lentamente resgatadas. Tendo sobrevivido à
Revolução Cultural, os quatro principais estilos chineses de bordados com fios
de seda – Suzhou, Sichuan, Guangdong e Hunan – voltaram a ser exibidos no
exterior, encantando colecionadores de arte em todo o mundo.
Yuan
dynasty phoenix and flowers.
Nos monumentos da Grécia antiga, aparecem figuras com
túnicas bordadas. Os hebreus também usavam o bordado, cuja invenção atribuíram
a Noema/Noah (descendente de Caim). Em
várias passagens da Bíblia há referência à arte de bordar. O termo
"bordadeira" já existia como nos mostra a Bíblia no cap.27 – Êxodo –
falando de uma cortina artisticamente bordada. Homero fala dos bordados de
Helena e Andrômaca, nos quais essas princesas documentaram episódios da guerra
de Tróia. Na Antiguidade, os romanos descreviam o bordado como “a pintura de
agulhas”.
Mulheres
gregas trajando túnicas bordadas.
Traditional
Yemeni wedding jewelry and clothes embroidery. Coral necklace and antique Jewish silver.
Ancient
Hebrew garments embroidered.
circa.
200 B.C. - early Chinese embroidery
Lindo trabalho! Parabéns!
ResponderExcluirObrigado querida, que bom que gostou. Sempre fico feliz em poder dividir o mundo fascinante das artes com meus leitores. Grande abraço.
ExcluirCabe a mim apenas a descrição deste post em sentimentos como um fino bordado, feito com delicadeza sobre o tecido rústico da realidade...Parabéns pela belíssima pesquisa!
ResponderExcluirE cabe a mim lhe agradecer com todo meu carinho e amizade por estar sempre por perto transformando meu caminhar em uma trilha de luz. Bjs
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