Gitana com Niño – Herman Anglada Camarasa
Nascido em 1871, em Barcelona na Catalunha, Espanha, representante
do estilo pós-modernista espanhol, Hermenegildo, como é conhecido em sua terra
natal, é um dos mais populares e bem sucedidos artistas espanhóis do início do
século XX. Importante pintor da história catalã que viria a ser bastante
conhecido fora da Espanha. Cidades como Paris, Barcelona, Madrid, Buenos Aires,
Roma e Veneza são algumas que receberam suas criações e as exibiram.
Hermen
Anglada Camarasa.
Pessoa de caráter forte, dotado de um senso de humor
inabalável, rebelde e inconformista, se auto impôs uma férrea disciplina desde
criança já que tinha uma enorme ambição em ser um pintor renomado, e mostrava
ainda pequeno uma paixão desenfreada pelas artes e pela pintura, talvez
influenciado por seu pai, que na época era pintor decorativo de carruagens
assim como exímio aquarelista. Infelizmente, o mesmo viria a falecer quando Anglada
tinha apenas sete anos de idade, o que decorreria em uma época difícil para
toda família. Alguns anos depois sua mãe o incentivara a trabalhar na casa de
um familiar, um rico empresário, mas Anglada se nega terminantemente porque
tinha como firme propósito realizar seu sonho de ser artista, o que dividiria
sua família entre aqueles que se oporiam ao desenvolvimento de sua vocação
artística e aqueles que o incentivariam. Frequentou o Ensino Médio, porém
durante estes anos, talvez relacionado ao fato de querer convencer sua família
de que seu desejo de seguir os estudos artísticos era sério, ficou gravemente
enfermo e teve que repousar por um longo período. Aos quinze anos finalmente
sua mãe concordou que ele iniciasse seus estudos Artísticos na renomada escola Llotja (Escola Superior de Arte e Design, um instituto público de ensino
superior, herdeira da Escola Livre de Desenho, criado em 23 de janeiro de 1715,
pelo Conselho de Comércio de Barcelona, o Llotja é a mais antiga escola de
design da Espanha). Seus primeiros trabalhos seguiam claramente os cunhos
acadêmicos de seu professor, o pintor impressionista espanhol, Modesto Urgell y
Iglada.
Paysage
con figura - Modesto Urgell y Iglada.
Hermen Anglada Camarasa - Flores
y copa - 1889.
Hermen Anglada Camarasa - Paisaje.
1889. Óleo sobre lienzo, 100 x 150 cm. Museo
Reina Sofía.
Um de seus primeiros trabalhos foi adquirido por Victor
Balaguer, político, escritor, poeta e historiador catalão que a expôs junto a
obras de outros artistas na inauguração da Biblioteca-Museu Victor Balaguer, na
cidade de Barcelona, Catalunha, Espanha, o que lhe trouxe visibilidade. Durante
os anos seguintes Anglada estaria envolvido em várias exposições coletivas de Belas Artes na Espanha.
Hermen Anglada Camarasa - Paisatge
amb pont – 1890.
Cabeza
de viejo - 1895 - 1897.
Contudo o jovem Anglada desejava acima de tudo ter sucesso,
ser reconhecido, então aos 23 anos logrou que a reconhecida galeria de Arte “Sala
Parés” expusesse suas obras. Assim, em 1894 conseguiu mostrar algumas de suas
obras em uma das salas da galeria, para a qual idealizou e fez imprimir
panfletos de divulgação das mesmas a serem distribuídos entre os visitantes.
Porém, a mostra não teve a repercussão esperada por Anglada, já que outro pintor
catalão, Ramón Casas que expunha obras em outra sala na mesma galeria, fez um
enorme sucesso com seu quadro “El Garrote Vil” se tornando o protagonista
daquela galeria naquela data.
Ramón
Casas - El Garrote Vil - 1894.
Neste mesmo ano Anglada decide mudar-se para Paris. Uma vez
na capital francesa, começou a frequentar aulas de arte na “Académie Julian”,
durante o dia, e na “Académie Colarossi” a noite. Nos primeiros anos em Paris,
viveu alguns momentos difíceis, apesar de poder contar com o apoio financeiro
de um familiar que lá residia.
Cours de
modèle vivant, atelier des garçons, Académie Julian.
Académie Colarossi – Panfleto publicitário.
Em suas aulas noturnas na Academia Colarossi conheceu o
artista peruano Carlos Baca-Flor, que o introduziria aos modernos meios
artísticos da cidade às margens do Sena, fazendo-o descobrir a vida noturna
deslumbrante e sedutora de Paris com cabarés, cafés e entretenimentos. A partir desse momento, cercado por neo-impressionistas
e simbolistas, Anglada começou a realizar obras que retratavam com maestria a
vida noturna parisiense galopante da Belle Époque, repleta de mulheres sensuais,
o que ele representou como sutis e etéreas figuras femininas, seguindo o
arquétipo da ”femme fatale”.
El
casino de Paris 1900.
Le
paon blanc, 1904.
A sua pintura acusa a influência marcante de artistas como
Toulouse Lautrec, Gustav Klimt e Van Dongen. Mas, a verdadeira transformação em
seu estilo se daria com a chegada a capital francesa do balé russo Diaghilev,
com os excepcionais bailarinos, Nijinsky e Pavlova. Este evento social
artístico viría a revolucionar os gostos e costumes parisienses da época. Anglada
ficou profundamente impactado diante dos cenários e figurinos, com as cores
vivas em tons de laranja, fúcsia e verde, tanto que os seus retratos femininos
em tons mais pálidos deram lugar as matizes multicoloridas.
La
Gata Rosa – 1908.
Los
ópalos. 1904. Óleo sobre tabla.
Mur
céramique, 1904.
Friso
valenciano - 1905 – 1906.
Valencia
1910.
Ao romper do novo século, Anglada Camarasa já é uma figura
respeitada e admirada no mundo da arte parisiense, cujas obras despertam o
interesse de colecionadores como o compositor René Castera. Foi precisamente o
músico que o apresentou aos círculos burgueses de Paris, os quais lhe fariam
inúmeras encomendas.
Sonia
de Klamery, Comtessa de Pradere - 1913.
No ano de 1900, durante uma estadia em Barcelona, Anglada
mais uma vez organizaria uma exposição na “Sala Parés”, porém desta vez uma
exposição individual, feito incomum para tão jovem artista. Em um esforço para
agradar a todos, o artista decidiu trazer sua própria visão pictórica da noite
e boémia de Paris com uma seleção de desenhos acadêmicos, para deixar claro
que, era exímio desenhista embora suas pinturas pudessem indicar o contrário. Mostrou
através de suas novas obras o que tinha aprendido na capital francesa e causou
grande exaltação por parte do público, dentre eles o ainda muito jovem Pablo
Picasso, assim como conseguiu lograr críticas favoráveis dos críticos de arte Raimon
Casellas e Alfredo Opisso.
Dibujo preparatorio para Desnudo bajo la parra 1909.
Detalle de la Granadina - 1914.
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial sua carreira
sofreria uma reviravolta. Com metade da Europa imersa em uma sangrenta guerra,
e a força das novas vanguardas artísticas em expansão, seu trabalho foi
relegado para segundo lugar no continente, porém nos EUA seus trabalhos
começaram a chamar a atenção de Archer Huntington, fundador da “Hispanic
Society of New York”, e defensor do trabalho de outros dois artistas espanhóis:
Sorolla e Zuloaga. Ao mesmo tempo, em países como a Argentina, seu trabalho
também viveria um grande momento, graças à divulgação feita por artistas sul
americanos que haviam sido seus alunos na "Academia Vitti" de Paris.
Hispanic Society of America New York.
Depois
da Grande Guerra, Anglada se estabeleceria em Mallorca, especificamente em “Port
de Pollença”, onde desfrutou de alguns anos de aposentadoria até meados dos
anos 20. Seu trabalho artístico é invadido por belíssimas paisagens e marinhas mantendo,
porém seu cromatismo e suas pinceladas características. As árvores, as rochas,
a baía se tornaram protagonistas de suas pinturas. O crepúsculo e as paisagens
iluminadas por um Sol cálido típico das costas de Mallorca começam a dividir espaço
em suas obras com lindos arranjos florais em vasos, porém Anglada ainda
necessitava de um pouco de obscuridade para suas iridescências e a encontrou no
fundo do mar, nos revelando a vida marinha em todas as suas cores e nuances.
Llegada de la romería del arroz. Museo Reina
Sofía.
La
higuera 1917.
Fons
de mar - c 1927 - 1928.
Sua Iconografia nos revela festas, mulheres em trajes regionais,
ciganas, paisagens de Pollença, Mallorca, a noite parisiense, temas equestres,
danças espanholas, temas orientais, pinturas efêmeras, cheias de espectros de
luz e de sombras. Sua pintura tem um poder expressivo incrível, tem movimento, podemos
quase escutar o som frenético das castanholas das dancarinas de Zambra, dança
flamenca dos ciganos, podemos visualizá-las envolvidas pelo ritmo “caliente”. Suas
cenas noturnas iridescentes da Belle Epóque parisiense, seus cafés e cabarés
retratam com maestria o efeito produzido pela iluminação elétrica, que havia
chegado para substituir a iluminação de lampiões a gás.
Feria
en Valencia 1910.
Chula
de Ojos Verdes - 1914. Retrato de Leticia Bosch 1922.
El
Jardín Parisino.
Baile
gitano c. 1914 – 1921.
La
Rondalla de jaca – 1910.
La Higuera de la huerta, invierno. Mallorca 1918.
La-costa-del-colomer
– 1927.
Grande parte da sua obra está ligada ao modernismo, e, fiel a
este estilo artístico, os valores cromáticos de suas obras são suntuosos e
ornamentais. Seu trabalho é conhecido pela gama de tonalidades escolhidas com maestria
revelando cores presentes na natureza, em combinações harmônicas que ressaltam
ainda mais a beleza das figuras e paisagens representadas. Muitas vezes beira
ao “colorismo artístico”, dando preferência às cores em detrimento dos objetos,
substituindo as relações de valor pelas relações de tonalidade. Observamos em
suas pinturas a preeminência da força sobre a forma, a subordinação da linha à
cor.
Jardí
amb xiprers – 1930.
Ver Luisiant-1904.
Quando a
Guerra civil espanhola eclodiu, Anglada, republicano e maçom, encontrava-se em
Barcelona, porém com o avanço e a vitória das tropas de Franco, foi obrigado a
se exilar na França. Voltaria em definitivo a Espanha em 1948, se estabelecendo
novamente em Port de Polença, onde viria a falecer em sua casa aos 88 anos, no
ano de 1959. Lá, em sua homenagem ergueram uma escultura de bronze no “Pine
Walk”. A casa onde vivia foi transformada em museu, o “Museo Anglada Camarasa”.
Fiesta
Valenciana.
Obrigada por essa página. Muito boa pesquisa, parabéns !
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