Em alemão significa “corte com tesoura”, também chamada de a
arte da Silueta, (Papercutting em inglês, em francês, Papier Découpé, Jianahi em chinês, Picado em espanhol,
Wycinanki em polonês) consiste em uma arte milenar provavelmente originária da China, pois nos séc. XII
a XIII os chineses já se utilizavam dos
recortes em papel como moldes tipo
estêncil para posterior pintura em porcelana, que muito se assemelhavam ao
“Scherenschnitt “ que hoje conhecemos.
Da China vem o teatro de sombras, anterior aos séculos
mencionados acima, considerado uma espécie de antecedente desta arte. Obedecendo
a uma tradição milenar, os chineses acreditam ser de bom agouro, na época de
seu ano novo (festa da primavera) pendurar em suas janelas, portas e espelhos, belíssimas
“Scherenschnitte” retratando símbolos de boa sorte e abundância. Também
presenteavam uns aos outros com esta delicada arte em papel muitas vezes
retratando singelas borboletas ( estas especialmente apreciadas na Dinastia Song
séc.XII) As mulheres da dinastia Tang (
618-907) trançavam belos e delicados
“Scherenschnitte” em seus cabelos.
Amuletos de boa sorte- China
Modelo de " Scherenschnitt" usado como adorno em penteados
Hina Ayoma papercut- Butterfly
Na tradição judaica, os contratos matrimoniais, Ketubá ou Ketubah,
tradicionalmente escritos em aramaico tem sido parte integrante dos casamentos
por aproximadamente dois milênios. Alguns destes contratos além de manuscritos
de forma artística, se utilizando de belas caligrafias eram muitas vezes
embelezados por ricas pinturas ou ainda primorosamente adornados com a arte do
“Scherenschnitt”
Ketubah ilustrando as doze tribos de Israel lado externo e na parte oval imagens dos sete dias de criação
Ketubah Israel
Na Europa esta arte chegou provavelmente trazida para os
Bálcãs pelos Persas chegando até a Europa Central no início do século XVII. Em
plena Contra Reforma esta arte torna-se uma atividade privilegiada pelas Damas
da Corte e também por Freiras da Suíça, Alemanha e Áustria, estas últimas recortavam
figuras bíblicas e religiosas, chamados de “Spitzenbilder”.
Spitzenbild
A arte do “Schattenriss”
ou “Silhouette”ficou bem conhecida a partir de 1759, através de Étienne de Silhouette, ministro de finanças do
Rei Luis XV. Em conseqüência da guerra dos 7 anos e visando
adotar medidas de contenção de
despesas, o mesmo introduziu esta arte para poder economizar tintas , cores e
telas, passando a mesma a ser chamada de “ Silhouette portraits”, em homenagem ao
mesmo.
Étienne de Silhouette
Na Alemanha um grande adepto da arte da “Silhouette”
foi ninguém menos que o escritor
e pensador , Johann Wolfgang von Goethe, ele mesmo adepto e conhecedor das
técnicas desta arte, retratava parentes e amigos , também mencionando a “Silhouette” em seus poemas.
"Silhouette" Goethe
Modelo de "Silhouette"
Recortando a "Silhouette- Karl Johnson
Para o escritor e
poeta dinamarquês Hans Christian
Andersen o papel não existia apenas para receber a palavra escrita, representou
a base para sua expressão imaginativa, então registrou nos papéis que passaram
por suas mãos, além de palavras , desenhos e cortes na arte do “Scherenschnitt”, deixando por volta de 1500 exemplares , a
maioria preservada por Henry Dickens (1849-1933) filho de Charles Dickens.
Dizia aos mais próximos de que, como a antiga expressão que profere estarem
a forma e arte escondidas na pedra, só
sendo revelados pelo escultor, o poeta nele usou seu material - o papel - para
gravar, ou melhor, esculpir suas idéias
"Silhouette" de Hans Christian Andersen
"Silhouette" de Hans Christian Andersen
Scherenschnitt Hans Christian Andersen
Ainda no século XVIII podemos destacar um grande artista
suíço, autodidata, famoso não somente como pintor, mais também por ser exímio
na arte do “Scherenschnitt”, seu nome, Jean
Huber Voltaire. Nascido em Genebra, se tornou amigo de Voltaire na ocasião que
este foi morar as margens do lago de Genebra. Ficou conhecido como
Huber-Voltaire por sua amizade de quase 20 anos com o filósofo, o qual retratou
por diversas vezes. Popularizou a arte da “Silhoutte” em Genebra e no restante
da Suíça. Seu talento lhe permitiu criar cenas de caça, combate, lindas paisagens e cenas figurativas. Conheceu Goethe em 1779,
e o mesmo diria dela mais tarde: “Jean
Huber é um Homem, cujo espírito, imaginação e poder de observação não lhe cabem
no corpo, transcendendo-o. “
Jean Huber - Auto - retrato com Voltaire
Pastel sobre papel - 1770
Auto - retrato em "Silhouette" de Jean Huber Voltaire
Já no séc. XIX, o “Scherenschitt” ou “Silhouette”, assim como
a Pintura e saber tocar um Instrumento, principalmente o Piano, eram considerados de bom tom.
Nas famílias da sociedade se mantinha o hábito de exercer esta arte ao
anoitecer, como um passatempo, as famílias se reunindo em torno de alguém
tocando música, cantando ou contando histórias.
Human Origin- Papercut
Mother and Child Silhouette
Entre 1890 e 1910, com o aparecimento do “ Jugendstil” mais
conhecida como “Art Noveau”, A “Silhouette” torna-se uma expressão artística
independente na escola de Artes decorativas em Viena.
Art Noveau Scherenschnitt Model
Art Nouveau Scherenschnitt
Das cidades, a arte do “Scherenschnitt” começa então a rumar
para o campo se tornando mais e mais popular entre as classes menos abastadas. Na
Suiça esta migração da arte do “Scherenschnitt” para o
campo se deu de forma gradativa
começando por um movimento de alguns professores que cultivavam o hábito de
presentear seus melhores alunos com um
tipo de quadros com dedicatórias ,Errinerungs - und Widmungsbilder , uma combinação de bela caligrafia, pintura e “Scherenschnitt”
, chamando atenção para esta arte.
Os pais da arte do “Scherenschnitt na Suíça são sem dúvida
os artistas Johann Jakob Hauswirth (1809-1871) et Louis – David Saugy
(1871-1953). Com seus trabalhos estes artistas retrataram a vida alpina, dos
camponeses, das tradições e costumes suíços com riqueza de detalhes, tendoaté hoje, fieis e talentosos discipulos mantendo viva a tradição do "Scherenschnitt" Suíço.
Alpaufzug Jakob Hauswirth
Collage und Scherenschnitt Jakob Hauswirth
Scherenschnitt Louis – David Saugy
Scherenschnitt Schweizer Trachten
Hoje as técnicas antigas desta arte sofrem releituras, dentre elas
podemos citar as do artista espanhol Lorenzo Duran, preocupado não somente em
manter a tradição do “Picado” de seus antepassados, como em chamar a atenção para o
problema do meio ambiente com sua arte. Sempre fiel a frase que norteia sua
vida “La naturaleza en el arte y el arte en la naturaleza"
Hoja "Ciervos", técnica Picado - Lorenzo Duran
Hoja "Hada", técnica Picado- Lorenzo Duran
Hoja "Àrbol" técnica Picado - Lorenzo Duran
O pintor, ilustrador e escultor francês, Henri Matisse (1869– 1954), começou a utilizar o “Scherenschnitt” introduzindo-o, primeiro em forma de estêncil em suas obras, apelidando a mesma de “pintura com tesouras”. Diria Matisse, que este tipo de arte, diferente da pintura, era definitivo, um corte errado não poderia ser revertido exigindo do artista noção e padrões de conhecimento estéticos apurados. Poucos anos antes de sua morte, Matisse encontra a expressão de forma perfeita para sua arte, a busca pela forma com a tesoura em uma folha de papel de cor. Podemos observar estes recortes em sua série “NU BLEU”, de 1952, consistindo de recortes em Gouache, que funcionam através da interação de personagens azuis, abstratos sobre um fundo branco.
Nu Bleu I, II, III - Henri Matisse
A ferramenta que dá nome a esta belíssima arte não é simplesmente
um par de tesouras. Assim como o pintor usa pincéis diversos e o escultor não
apenas emprega martelo e cinzel para dar vida a suas obras, o artista do “Scherenschnitt”
tem a sua disposição, canivetes, faquinhas cirúrgicas e tesourinhas de bordado
diversas, além claro de papel e papel vegetal.
Preparação em papel Vegetal para Scherenschnitt-Esther Gerber, Suiça
Hina Ayoma papercutting
O termo “Scherenschnitt “ ainda hoje nos remete à manutenção de tradições culturais e arte suprema. Os “Scherenschneider”, artistas do “Scherenschnitt, são sem dúvida uma elite a ser respeitada e valorizada no meio artístico. Dando vazão a uma imaginação lúdica, trabalhando com a diversidade de formas, com o positivo e o negativo, luz e sombra.
Espero ter lhes aberto uma pequena portinha de entrada para este mundo tão rico desta arte milenar e que soube de alguma forma alêm de manter suas raízes, se reinventar.
Grande beijo a todos e um bom finalzinho de semana.
Parabéns pelo post, ele é fantástico !!! Adorei conhecer mais sobre essa arte fantástica que é a "Scherenschnitt" !!!
ResponderExcluirObrigada querida, pesquisei bastante e acho que o resumo ficou legal, creio ser importante sabermos um pouco mais sobre esta e outras artes. Bjs
ExcluirBelísimo trabalho...
ResponderExcluirA arte relamente transcende os séculos...
Uma história riquíssima que vale a pena ser conferida de perto!
Adorei, ;)
Obrigada Aminah,
Excluiradoro Scherenschnitte, apesar de não dominar a técnica, só cheguei a fazer as lanternas vazadas para meus filhos na época em que estudaram no colêgio Waldorf, ou seja durante toda infância a cada festa da menina da lanterna e de novo a cada primeiro de Agosto, comemorando o dia nacional da Suiça,rsrsrsrs...
Fantástico e muito interessante, Delia! Parabéns!!! Bjs
ResponderExcluirMerci vielmal Mueti, es fröit mi immer wenn de echli inneluegisch, gäll! Immer aues Gueti!!
ExcluirAmei as informações, Delia!
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