O Violinista Azul - Marc Chagall
MARC CHAGALL
Nascido em
1887 em uma família judia modesta na Rússia era o mais velho de nove filhos.
Seu nome é Moishe
Shagal, mais conhecido como Marc Chagall, e ele viria a se tornar um dos mais importantes
artistas do Surrealismo.O cotidiano fluía simples no gueto judaico. O pai, judeu ortodoxo, tinha uma banca de venda de arenques no mercado. O trabalho alternava-se com a leitura diária dos livros sagrados e a freqüência assídua à sinagoga. A família atribuía significados simbólicos tanto ao trabalho quanto à diversão. Completava o ambiente familiar um avô que se isolava no sótão para tocar seu violino em sossego. As velas acesas e a mesa posta às sextas-feiras saudavam o Shabat. O talento de Chagall revelou-se em suas primeiras pinturas, nas quais representou as principais etapas da vida de um judeu devoto: seu nascimento, casamento e morte. Como pano de fundo de todas essas cenas, sua cidade natal, Vitebsk.
1909, Russian Wedding - Marc Chagall
1910, The Sabbath - Marc Chagall
1917, Market Place Vitebsk - Marc Chagall
Em 1907 a cidade de Vitebsk tornou-se demasiado pequena para seu aprendizado artístico. Era preciso partir, e assim o fez. Foi para São Petersburgo. Lá, graças a um subsídio mensal de dez rublos, Chagall pôde estudar na Academia de Belas Artes onde começou a estudar arte com Leon Bakst . Mais tarde, o advogado e deputado liberal Maxim Vinaver tornou-se seu patrono e estimulou-o a imigrar para a França, com a promessa de lhe enviar a soma de 125 francos por mês, como provisão para suas necessidades imediatas.
Marc Chagall - 1921 Paris
O verão de
1910 já estava no fim quando Chagall chegou a Paris. O impacto foi imenso e
Chagall preconizou:
“Aqui nasci pela segunda vez. Suas ruas, seus mercados são as academias de minha alma de pintor. Vivo imerso num banho colorido e encontrei aquela luz - aquela liberdade que não vi em parte alguma. Tudo me agrada”.
“Aqui nasci pela segunda vez. Suas ruas, seus mercados são as academias de minha alma de pintor. Vivo imerso num banho colorido e encontrei aquela luz - aquela liberdade que não vi em parte alguma. Tudo me agrada”.
Em París, viria
a se juntar a um grupo de artistas no bairro de Montparnasse. Foi durante este
período que ele pintou alguns dos seus quadros mais famosos, representando sua
infância e juventude no mundo fechado das aldeias judaico-russas, em especial,
enaltecendo o conceito de família e tradição. Desenvolveu ainda as
características que se tornaram marcas reconhecíveis de sua arte. Cores fortes
e brilhantes começaram a retratar o mundo em um estado de sonho. Fantasia,
nostalgia e religião começam a se fundir para criar imagens de outro mundo.
Entrance to the La Ruche du Passage Danzig, Montparnasse, Paris
Além de
imagens do mundo judaico, e de elementos do folclore e da vida religiosa na
Rússia, as pinturas de Chagall são inspiradas em temas bíblicos. Seu fascínio
pela Bíblia culminou em uma série de mais de 100 gravuras, as quais ilustram uma
Bíblia. Fez questão de denunciar a opressão nazista do Holocausto, contra os
judeus e do regime stalinista (Quadro Crucificação Branca 1938) Ainda insere sua
própria imagem em muitas obras, por vezes acompanhados de uma mulher, como um
observador de seu próprio mundo.
Israel, que
Chagall visitou pela primeira vez em 1931 para a abertura do Museu de Arte de
Tel Aviv, abriga alguns dos trabalhos de
Chagall, mais notavelmente os 12 vitrais
no Hospital Hadassah e decorações de parede no Knesset. Chagall publicou em memória desta viagem o livro de carácter
autobiográfico Ma vie (em português: "Minha vida")
Jerusalem Hassadah hospital Vitral - Marc Chagall
Em 1941,
durante a ocupação da França pela Alemanha, migrou para os Estados Unidos. Lá
encontrou uma acolhida calorosa contraposta a uma cética incompreensão diante
de sua obra.
Bella in Green - Marc Chagall
Em 2 de
setembro de 1944 morre Bella Rosenfeld. Durante trinta anos foi a companheira adorada e
ideal, misto de esposa e secretária, crítica de arte e escritora, mãe de sua
filha e guia espiritual. Sua morte deixa o artista prostrado. Meses se passam
até que retome o trabalho e ergua os olhos para o mundo que, apesar dos
escombros, tenta reconstruir-se. Ao retomar os pincéis, Chagall não consegue
evitar que o sofrimento da guerra e seu drama pessoal se traduzam nas imagens.
“A alma da cidade”, de 1945, e “ Em
torno dela” exprimem a dupla angústia do pintor.
Em 1963,
Chagall, aos 77 anos, foi contratado para pintar o teto da Ópera de Paris, um
edifício do século 19, majestoso monumento nacional. André Malraux, ministro da
Cultura da França queria algo original e decidiu que Chagall seria a artista ideal. No entanto,
esta escolha causou polêmica: alguns se
opuseram a ter um judeu russo decorarando um monumento nacional francês, outros não
gostaram de o teto de um edifício histórico ser pintado por um artista moderno.
Chagall teria feito o seguinte comentário: “É impressionante a maneira como os
franceses se ressentem com os estrangeiros. Você mora aqui por toda uma vida, se
torna um cidadão naturalizado francês... trabalha de graça decorando suas
catedrais, e ainda assim eles desprezam você. Você nunca será um deles!”
Ao som de "Jupiter Symphony" de Mozart, compositor
favorito de Chagall, sua pintura no teto da Ópera de Paris foi apresentada ao
público em 23 de Setembro de 1964 na presença de Malraux e 2.100 convidados. O
correspondente em Paris para o New York Times escreveu: "Pela primeira
vez, os melhores lugares estavam no círculo superior!”
Ceiling Paris Opera - Marc Chagall
Na França e
nos Estados Unidos da América pintou, para além de diversos quadros, vitrais e
mosaicos. Explorou também os campos da cerâmica, tema pelo qual teve especial
interesse.
Ceramic Plate by Marc Chagall entitled Moses
Uma das grandes
contribuições para a arte são os vitrais de Chagall. Este meio de arte
permitiu-lhe ainda expressar seu desejo de criar cores intensas e frescos
usufruindo da vantagem da luz natural e
interagindo refração em constante
mudança. Tudo a partir da posição em que o espectador esteja posicionado para o
exterior o tempo iria alterar o efeito visual. Ele tinha cerca de 70 anos de
idade, quando projetou os vitrais para a igreja de Assy, seu primeiro grande
projeto. Em seguida, ele criou os vitrais para a Catedral de Metz.
Em 1959, em
visita a Paris, a presidente do Hospital Hadassah diz, instigando-o: “Agora o
povo judeu veio a você. Esta é a sua oportunidade de criar algo que fique para
a posteridade”.
Com
entusiasmo, Chagall concorda em criar, na sinagoga do Hospital Hadassah, em
Jerusalém, os doze vitrais representando às doze tribos de Israel. A cor
dominante da janela de Reuven, o filho mais velho de Jacó, é azul, simbolizando a frutificação.
Jerusalem Hassadah Hospital Windows by Marc Chagall
Em 1970
projetou 5 vitrais para a catedral Fraumünster,
Zurich, Suiça. Os vitrais são a principal atração do Fraumünster formando um conjunto
de cinco vitrais , cada um com 10 metros de a
seu tema e sua própria cor. Chagall pode ter usado as cores simbolicamente, como
o azul e o verde que representam a
terra, vermelho e amarelo que representando os céus.
Chagallfenster Fraumünster Zürich
Chagall
recebeu muitos prêmios e muito reconhecimento por seu trabalho. Ele também foi
um dos poucos artistas a expor trabalhos no Museu do Louvre em vida.
Um repórter
norte-americano perguntou-lhe se estava satisfeito com a vida que levava e
quais eram as suas convicções: “Estou satisfeito” respondeu-lhe o artista.
“Creio primeiro em Deus, no povo judeu, na sua continuidade, na pintura e na
música de Mozart. A única coisa que desejo é fazer livremente o que eu quiser.
Meu trabalho é minha satisfação. Quanto ao resto, tudo continuará. Haverá
outros Chagall. Sempre os há, sempre haverá cores, música, poesia. Sempre
haverá artistas atraídos pela luz”.
Exodus - Marc Chagall
Faleceu aos
97 , em 1985, e está enterrado na França, em Saint-Paul-de Vence ao lado de sua
esposa e cunhado.
Marc Chagall
manteve um estilo único. Foi celebrado pelos impressionistas alemães,
impulsionou o desenvolvimento do surrealismo, teve alguma influência do
cubismo, mas sua obra não pode ser categorizada por um único movimento
artístico. O romantismo e as alegorias típicas de Marc Chagall imprimem em sua
obra mística, os sonhos, os símbolos e
as referências de sua educação judaica tradicional, assim como sua memória
infantil, campestre e coloridamente lúdico. Nos quadros, nas cerâmicas, nos
vitrais... há sempre uma atmosfera enigmática, romântica, inefável que nos
atraí como que ao mundo dos sonhos ou do inconsciente de cada um, um convite
para um passeio entre o real e o imaginário, onde é possível brincar com as
leis do tempo, do espaço e da força da gravidade
Enchantement - Marc Chagall
The Prophet - Marc Chagall
Fascinante!
ResponderExcluirUm artista e tanto, me impressiona muito sua arte - é no mínimo intrigante - muitas cores, sentimentalismo, pinceladas fortes...
Belíssimo post!
Adoro as obras de Chagall, ele procura traduzir os mais inexpressíveis sentimentos humanos, em cores e pinceladas fortes... Parabéns pelo post, adorei !!!
ResponderExcluirObrigada por seguirem o Blog e pelo carinhoso incentivo! BJS
ResponderExcluirParabéns pelo post interessante! Também acho bastante intrigante a obra dele!Gosto muito dos vitrais. Bjs
ResponderExcluirAdorei seu Blog!! Somos conterrâneas de coração e países, vc no Brasil e eu aqui na Suiça. Adoro Chagall e amanhã vou na Exposição dele q está acontecendo aqui no Kunstmuseum de Zürich. Abraços, Thaísa Carneiro.
ResponderExcluirQuerida Thaísa, muitíssimo obrigada pela gentileza e carinho.Um grande abraço daqui do Brasil!!!!Bjs
ResponderExcluirDe repente descobri Chagall. Já conhecia um mínimo da sua obra, e francamente(?), não gostava muito, ou melhor, não a entendia com o coração, o sentimento intenso e colorido, difuso e encantador, paraíso e tristeza. Tudo junto em sua obra. Agora estou ficando fanática e tudo que encontro de Chagall na internet só me leva mais perto dele. Queria estar em algum lugar que pudesse ver sua obra de perto. Obrigada por esta postagem, perfeita.
ResponderExcluirQue texto maravilhoso! Eu tenho em meu mural uma pintura dele mas nunca dei a devida atenção, obrigado por esse texto e toda a paixão que passa ao escreve-lo! Me apaixonei ainda mais por ele e sua obra magnífica!
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