A ARTE DE SONHAR – UM MERGULHO NA IMAGINAÇÃO
Receptáculos de luz, as esculturas de Isabelle Jeandot
testemunham outra realidade: intensas e graciosas, elas deslizam seus
pergaminhos de bronze sob os nossos véus da inconsciência e revelam uma
alquimia essencial: o Divino está inserido no coração da matéria. A alma de um
artista certamente se reflete em seu trabalho e as obras de Isabelle espelham
sensibilidade, delicadeza e profunda venerabilidade.
Sopra através do trabalho de Isabelle Jeandot um vento
inebriado de sensualidade, de beleza, de sacralidade que quase nos faz não
perceber a exigência e o domínio técnico que as mesmas exalam. Seu estilo
figurativo é altamente pessoal. Suas esculturas de bronze retratam a forma
humana em todos os seus vários aspectos físicos e espirituais.
Isabelle Jeandot revela - nos um universo de formas
lascivas, estendidas ao extremo, num movimento que busca transcender a matéria.
Um movimento de graça, de fertilidade. Muitas vezes os casais se fundem, se
entrelaçam em voluptuosidade sensual, porém parecem exceder o amor físico para torna-lo
cósmico como se fossem dançarinos da divindade. Suas obras possuem magia, essa
faculdade de nos dar acesso a uma dimensão que não é a da razão, não a do
costume, não a da prosa cotidiana.
Apaixonada pela psique humana e suas dimensões sagradas,
pela sua expressão atemporal e universal no coração da condição feminina,
Isabelle Jeandot explora este universo à luz da escultura, uma verdadeira
materialização de suas descobertas internas ...
Assim ela vive sua arte como uma verdadeira jornada
espiritual: cada escultura a convida a explorar seus mundos intrínsecos um
pouco mais a fundo, e dali, a partir de se amago destacar as inúmeras facetas do Sagrado
Feminino: amor, desejo, o casal, a maternidade, a alma, o Sagrado em todas as
suas formas.
Nascida em Lons-le-Saunier, no Jura, em 1966 na França,
a artista obteve uma licenciatura em psicologia em 1988 e enquanto estudava
comportamento e funções mentais, enquanto tentava desmembrar e entender o
indivíduo, Isabelle Jeandot se voltou para a arte. É a descoberta das criações
de Camille Claudel que decidirão a vocação de Isabelle Jeandot como escultora. Fez
estágio artístico no Atelier Jean Pons de 1986 a 1991, onde aprendeu escultura
em madeira e pedra assim como estudou técnicas para utilizar o lado direito do
cérebro, expandindo desta forma a criatividade. Em 1998, ela deixou o Jura para se estabelecer
em Evian (Alta Sabóia). Desde então, ela vive e esculpe em seu estúdio em
frente ao lago de Genebra.
Seu trabalho inclui figuras humanas com formas
depuradas de superfícies lisas e brilhantes – quase que metáforas, símbolos do
etéreo, da luz e do divino. Como se fossem testemunhas materiais de outras
realidades trazendo a tona o sagrado feminino emergindo silenciosamente da
sinfonia universal. Desde a década de 1990, a artista cria esculturas feitas de
diferentes materiais, principalmente bronze, mas também em resina de gesso.
Para estas últimas desenvolveu uma pátina que faz com que as mesmas se pareçam
com pedras ou ainda com o próprio bronze.
Em sua página pessoal a artista assim se apresenta:
“Esculpir...
Perseguir a certeza e dominar as dúvidas.
De nada sei, nada quero
Apenas ser ...
Para ser permeada...
Deixar minhas mãos se ativarem, deslizando na terra
convidando minha visão para renascer na matéria.
Oferecer-me inteiramente a esse íntimo tremor, a essa
necessidade imperativa de materializar minhas viagens interiores.
Esculpir, modelar, dar à luz, só para me abandonar à
corrente da vida.
Esculpir é ato de caminhar na corda bamba, uma alquimia delicada entre
maestria técnica e inspiração ... fio de trama, fio de teia, fundem-se
amorosamente para tecer com infinita paciência, a escultura nascente.
Vertigem da criação ... de minhas mãos nascem e cantam
quadris cheios, olhares ferozes ... no final dos meus dedos balançam os mundos,
e lá, de pé no estúdio, eu sou a interface
líquida entre espírito e matéria, entre
céu e terra.
Na consciência aguda da minha condição humana, tão
irrisória e tão sublime, eu sei profundamente que não há nada para procurar,
mas que há Tudo para encontrar. “
Não será o tempo apenas uma ferramenta de pura criação
intelectual projetada para explicar-nos a eternidade? Não importa a resposta,
afinal , porque para a alma do artista é preciso perceber o presente em toda a
sua intensidade para que a mente capte o conceito de passado e futuro
reunindo-os, deixando-os fluir através das mãos habilidosas. È essencial que
possamos cuidar deste céu que há em nós, expandir nosso infinito, invisível aos
demais, deste santuário que é a vida, povoado de mensageiros do além, aqueles
que de várias formas em diversos momentos nos inspiram conduzindo-nos ao melhor
de nós mesmos.