WORAN ICH FEST GLAUBE, IST ABER DIE UNSTERBLICHKEIT
DER SEELE – DIE INDIVIDUALITÄT, DIE URALT IST UND NOCH SEHR VIEL VOR SICH HAT
AN ENTFALTUNG, WEITERENTWICKLUNG. WIE SICH DAS ABER ALLES JENSEITS UNSERES
WISSENS ABSPIELT UND ABGESPIELT HAT, DAS BLEIBT – JEDENFALLS JETZT NOCH –
GEHEIMNIS”. - SULAMITH WÜLFING
ACREDITO
FIRMEMENTE NA IMORTALIDADE DA ALMA – NA INDIVIDUALIDADE TÃO ANTIGA E COM TANTO
A VIVER AINDA, POIS QUE ESTÁ EM CONSTANTE DESENVOLVIMENTO. MAS COMO TUDO ISSO
ACONTECE E EVOLUI ALÉM DO NOSSO CONHECIMENTO PERMANECE - PELO MENOS AGORA - UM
MISTÉRIO – SULAMITH WÜLFING
Nascida em
11 de janeiro de 1901, em Eberfeld, província do Reno - Alemanha, filha de pais
teosofistas, Karl e Hedwig Wülfing, ainda criança, Sulamith tinha visões de
anjos, fadas, gnomos e espíritos da natureza. Ela começou a desenhar esses
seres imateriais aos quatro anos de idade. Aos dezesseis, era considerada uma
criança prodígio, que demostrava um absoluto senso de espaço enquanto
desenhava. Sua alma de artista já possuía então um estilo definido, muito
próprio, desenvolvido bem antes de receber seu primeiro treinamento formal na
Escola de Artes em Wuppertal, Alemanha.
Aos 22 anos
fez sua primeira exposição no “Elberfelder Museum”. Suas obras etéreas e
enigmáticas desde o princípio retratavam contos de fadas ou assuntos místicos. Suas
visões além-mundo a acompanharam por toda a sua vida e a inspiraram diretamente
em suas pinturas. Ela relata que ao sentir o impulso para pintar não existem
formas ou propósitos pré-estabelecidos em sua mente, sob seus pincéis
simplesmente as figuras vão se revelando, saindo por detrás dos véus de sua
imaginação, dos seus sentidos, de sua alma para timidamente e sem aviso voltar
a se ocultar em um mundo impenetrável além dos sonhos.
Graduanda
em 1921, no Instituto de Artes de Wuppertal, ela passaria a próxima década
pintando suas visões de mundo. Neste local se inicia a história que conhecemos
sobre sua trajetória de vida nas artes, pois é neste Instituto que ela conheceu
seu futuro marido, um professor de arte chamado Otto Schulze. Otto e Sulamith
casaram-se em 1932 quando ela tinha 31 anos. Logo após o casamento, seu marido,
Otto Schulze Jr., fundou a Sulamith Wülfing Verlag (editora) promovendo a arte
de sua esposa, a qual ele admirava, através de cartões postais e calendários,
além dos álbuns. Os aficionados por seu trabalho, porém foram forçados a
"descobri-la" aos poucos.
Em uma
exposição de seu trabalho, por um cartão postal ou ainda através de um
calendário visto pertencente a um amigo. Nunca houve uma campanha maciça na
mídia para contar ao mundo sobre sua arte, e Sulamith nunca possuiu o título de
queridinha dos colecionadores como o foi, por exemplo, Berta Hummel. Este
isolamento e dedicação às suas visões produziram uma coleção de trabalho mais
singular e focada. Poucos ilustradores e artistas puderam se dizer imaculados
pelas exigências de editores e de suas empresas, e poucos eram os que possuíam
o apoio de familiares e fãs. A arte imaginária de Sulamith Wulfing daria nome
ao título do seu livro lançado em 1978 – Arte Fantástica, título este bastante
apropriado. Sua arte é bastante anímica, permeada por um véu espiritual que
exala calma e serenidade, raramente encontradas na arte ilustrativa de então.
Durante a Segunda Guerra Mundial,
Otto foi convocado para servir seu país na frente russa, deixando Sulamith e
seu filho para trás em uma Alemanha em guerra. Foi nessa época que a cidade de
Wuppertal, onde ela e seu filho viviam, foi bombardeada, destruindo sua casa,
assim como a maioria de suas obras de arte, muitos dos quais por não haver
cópias se perderam para sempre. Depois de ver tudo extraviado, sua vida se
tornaria muito mais difícil, devido a todos os tristes acontecimentos e da
notícia que receberia do governo alemão de que seu marido havia morrido no
Front. Aos 22 anos, deprimida e sem
opções, Sulamith reuniu seus dois familiares restantes, seu filho e mãe, e
fugiu para a França.
Foi
durante seu tempo na França que conheceu e fez amizade com Jidda Krishnamurti, um
filósofo, escritor, orador e educador indiano, espiritualizado e também
integrante da Sociedade teosófica. O mesmo a ajudou orientando-a a se centrar
em si, ensinando-lhe meditação, o conhecimento da natureza da mente, bem como a
reconhecer a natureza das pessoas. Sulamith relataria mais tarde que sentiu
nitidamente a presença de seu amigo e mentor espiritual, Jiddu Krishnamurti,
protegendo-os e mantendo-os longe dos campos de concentração
A atmosfera do trabalho de Sulamith
variava entre serenidade e profunda melancolia, mas depois de um tempo e sempre
em meditação ela começou a melhorar conseguindo pintar e criar com mais frequência.
Sua coleção de arte estava se acumulando novamente, no entanto, em detrimento
da guerra, ela não foi capaz de distribuir seus trabalhos como anteriormente, mas
apesar de todos os infortúnios conseguiu se sentir relativamente feliz.
No ano de
1945, no entanto, sua vida mudou drasticamente para melhor. Em 25 de dezembro
daquele ano, ela descobriu que seu marido Otto não havia falecido e a família
se reuniu novamente. Com a volta de Otto e o final da segunda Guerra, puderam
voltar à Alemanha e aos poucos retomar a Editora, reconstruindo a vida que
haviam deixado destruída e para trás.
A família
havia experimentado uma série de grandes eventos trágicos, a suposta morte de
Otto, os interrogatórios aos quais Sulamith fora submetida, tanto por nazistas,
que consideravam sua arte depravada e suas crenças espirituais e filosoficas de
vida uma afronta ao Terceiro Reich, e, portanto condenável aos campos de
concentração e a morte, quanto no pós-guerra, pelos aliados, que, por
encontrarem muitos de seus cartões postais retratando anjos, escondidos nos
pertences dos soldados alemães, a consideravam parte do sistema nazista. Em
meio a todos estes acontecimentos porém, Sulamith teve êxito em reter tanto a
sua filosofia que lhe edificava a alma, quanto suas crenças pessoais que davam força
ao seu ser e com ambas ela alicerçou suas obras.
O sentimento da conexão essencial
entre a forma e a visão espiritual caracterizou o trabalho ao longo de sua vida
artística. As imagens angustiantes, detalhadas e significativas de um mundo
magicamente flutuante tomaram forma sob suas mãos talentosas.
Sulamith Wülfing mantinhas laços de
amizade com as famílias Fidus e Vögeler. Ela também tinha conexões com os
círculos teosóficos e espiritualistas ao redor de Krishnamurti. Nos anos
cinquenta, ela inspirou o designer de palco (Bühnenbildner) de Wuppertal,
Heinrich Wendel, e o maestro Hartmut Klug com suas obras e visões. De tempos em
tempos, um alto enviado do Vaticano buscava abruptamente uma longa entrevista
com ela.
Sulamith Wülfing desaprovava a arte
moderna que segundo ela era dura e fria como se fossem blocos de pedra sem vida.
Sua capacidade especial de sentir e capturar não apenas as características dos
rostos humanos, mas também a natureza da pessoa representada não deixava espaço
para truques experimentais, muito menos a desconsideração das leis estéticas.
De novo e repetidamente, ela enfatizou que somente a arte nascida do profundo
amor ao belo, ao que vinha da alma, se aplicaria.
À medida que envelhecia, seus
quadros se tornaram mais sérios e mais relacionados à morte. A elegância e o
poder visionário de suas representações dos Anjos são incontestáveis. Ela
frequentemente tinha a sensação de que hordas abençoadas estavam voando pelo
mundo com asas largas e agitadas. A beleza era para ela um campo de força
espiritual, que tinha sua justificativa.
Seu marido e admirador, descreveria
os seus trabalhos da seguinte forma:
“Há inflorescências a brilhar qual
gemas e pedras que possuem em si a luz das estrelas e o brilho de um olhar.
Delicadas gramíneas a se balançarem ao vento e borboletas que volteiam através
do azul celeste. Árvores acordam para a vida ameaçando estender seus galhos em
direção ao céu ou curvando-se como guardiões em torno do seu âmago, a vida. Nos
galhos se aninha a coruja, canta o tordo, se exercita o esquilo, permeados pelo
espirito da árvore benevolente, olhos
estreitados, ameaçadoramente atentos
visando um Goblin que ousou se aproximar demais dela. Surgem os espíritos dos
campos, florestas e prados, contando suas alegrias e tristezas, de toda uma
existência; do nascimento a morte, tempos de luz e de escuridão – espelhando o
mundo humano. E quase podemos ouvir o farfalhar dos tecidos, sentir os pesados
brocados bordados a ouro, os véus esvoaçantes , a seda perene, os tecidos
fluidos que se amoldam como espuma prateada em tornos dos delicados membros – e
brilham as joias. Através das delicadas filigranas de uma janela gótica
circular, reluz em tons dourados o sol poente, transformando o sótão em cor de
sangue, refletindo os vitrais, horizontal e verticalmente, tornando viva a lei
da vida- convertendo em espírito a pedra.
No entanto tudo isto são apenas os
elementos em torno do que é essencial – o Homem.
Olhos fechados, que choram. Lábios
que são pura bondade e outros dos quais sorvemos veneno. Cabelos soprados ao
vento que envolvem faces iluminadas por um beijo.
Úteros a carregar embriões que virão
a ser, suaves mãos a segurar os recém-nascidos, braços protetores a encobrir o
símbolo: Crianças. Indícios de um amanhã ainda por vir, seres sobre os quais
ainda não se pode escrever que nos penetram quando observamos as tenras
sementes dentro de nós, vivas e viventes a suportar os sinais dos tempos sendo
portadoras do futuro”. - Otto Schulze (Elberfeld).(tradução Delia Corecco
Steiner)
Sulamith Wülfing declarou sobre sua
arte: “Meus desenhos são uma representação visual dos meus sentimentos mais
profundos - prazer, medo, tristeza, felicidade, humor. E, para pessoas
sintonizadas com minhas composições, elas podem ser espelhos de suas próprias
experiências.
É por isso que eu deixei a
explicação a mercê do espectador, para que não tenha que se sentir vinculado a
minha interpretação do que cada imagem deve ser. Para mim, não é uma questão de
criar ilustrações para se adequar aos temas da rima infantil. Minhas ideias vêm
de muitas fontes e, de acordo com minhas experiências pessoais, posso
transformá-las nessas mágicas composições.
Meus anjos são meus conselheiros,
líderes, companheiros, guardiões. E os anões, estes costumam me mostrar as
pequenas ironias e outras coisas que me fazem sorrir mesmo nos eventos mais
incríveis da vida”.(Tradução Delia Corecco Steiner)
Com sua arte simbolista, Sulamith
Wülfing, assim como outros artistas , filósofos e escritores do início do
século XX o fizeram, foi levada a mergulhar em sua própria psique na busca de
respostas para o horror vivido durante a Guerra Mundial, conduzindo-a a retratar
temas relevantes e pessoais. De certa forma, todos os acontecimentos acabaram
por enriquecer seu subconsciente povoando-o com formas visionárias
permitindo-lhe representar seus pensamentos e sentimentos mais íntimos. A arte
proveniente desta época não se vinculava a qualquer prosa sobre contos de fadas
ou mitos, porém não perdeu as características da arte de fantasia. Ela parecia
estar tecendo uma mitologia pessoal usando suas visões do além-mundo como ponto
de partida.
A ela se referiram muitas vezes como
uma artista religiosa. Isso pode ser aplicado na medida em que suas imagens
estejam localizadas além de todas as denominações. Em uma série em preto e
branco ela retratou as Estações da Cruz. Nas imagens mais espirituais, os seres
alados radiantes parecem tranquilizar os seres em dificuldade. Neste tocante
ciclo de Cristo, que ela manteve em segredo por muito tempo, ela prova sua
própria afirmação de que nenhum artista pode ignorar a pessoa histórica de
Jesus de Nazaré.
A maioria de seus personagens retrata
o feminino. São mulheres, jovens, esbeltas e loiras de grandes e expressivos
olhos azuis. Rostos pensativos por vezes tristes, seres etéreos apesar de em
parte mundanos, envoltos em vestes fluídas, esvoaçantes e translúcidas,
adornadas de joias de ouro, prata e pedrarias, às vezes ocultos por
transparentes véus, tão finos e delicados que se assemelham a formas etéreas do
divino. Elas vão se revelando ao ar livre, ao anoitecer, por entre bosques e
prados ao luar, ou em interiores como castelos com detalhes vagamente góticos
(arcos de pedra, vitrais resplandecentes, cadeiras ou tronos ricamente
esculpidos). Os padrões das roupas e dos móveis parecem um rendilhado nórdico
ou celta.
Muitas de suas pinturas abordam o
tema da gravidez e da maternidade, enquanto outras ecoam a experiência da
solidão e da separação, e outras ainda ensinam amor e respeito.
Durante a vida da artista, mais de
200 de suas obras foram publicadas como cartões postais pela Sulamith Wülfing
Verlag. Alguns de seus trabalhos foram baseados em contos de fadas,
principalmente aqueles que foram escritos por Hans Christian Anderson.
A técnica largamente empregada por
Sulamith em suas pinturas é o grafite com aquarela trazendo elegância e fluidez
a narrativa. Os traços suaves e as pinceladas transluzentes e a escolha de
matizes de cores amenas que se alternam entre luz e sobra, conferem ao seu
trabalho luminosidade e beleza incontestáveis. Quase um quê de magia.
Sua obra de arte não apenas ajuda a
contar uma história que não pode ser expressa em palavras, mas é capaz de
transcender a barreira da língua entre sua língua materna alemã e a das nações
que não falam alemão. As imagens usadas em suas pinturas foram de tal maneira
expressas que, embora não se pudesse ler ou entender o título em alemão, o
assunto é tão belamente pintado que a história é capaz de se expressar por si
só.
“Deixe ao artista seus segredos.
Aceite de sua arte o que você vê...” - Com este pedido de discrição, Sulamith
Wülfing tentou proteger sua vida e seu trabalho em 1985 em sua última grande
exposição, para proteger sua privacidade. Em 20 de março de 1989, ela morreu
com a idade de 88 anos em Wuppertal.