Pintora
e contadora de histórias, é assim que se autodenomina esta artista escocesa,
que vive cercada por grandes colinas e bosques, por animais selvagens como
raposas, corujas, melros e abelhas. Sua inspiração vem da natureza abundante
que a cerca, de sua sabedoria e de suas criaturas. Sua cultura é plena de
contos e simbolismos, cheia de mistérios e histórias contadas ao redor das
fogueiras em noites enluaradas.
Suas pinturas e ilustrações a conectam a este mundo, que
se tornou seu mundo interior ainda que esteja rodeada por ele. Ao pintar, Lucy
conta histórias que segundo ela tem o intuito de conectar quem as observa com
seu próprio eu, seu interior atávico, seu estado inocente, como que visto
através dos olhos da criança que outrora já fomos.
Os temas que ela retrata são como abraços calorosos que
nos conectam ao espiritual, como em um voo mágico de volta a um passado
distante da nossa imaginação sem restrições e limites. Suas pinturas e
ilustrações são profundamente comoventes e tocam aquela parte em nós que muitos
deixam adormecida.
A artista é movida pela intensa preocupação de resgatar
em todos nós essa hora mágica, que com um pouco de sorte nos afastará desta
desconexão atual do ser humano com a natureza, com o ancestral e com nossos
instintos inatos. Lucy cria um mundo em cores suaves, líquidas, esfumadas, um
mundo de segurança, beleza, cura e paz, onde animais, crianças e a natureza
estão intactas e protegidas, onde o olhar ainda pode ser ingênuo, onde o belo é
simples e existe espaço para o maravilhar-se.
A artista diz em sua página:
“Em minhas pinturas de realismo parcialmente figurativo e
mágico, busco alcançar uma visão pueril - uma tentativa de acessar a pureza da
imaginação pura, das memórias, das emoções, dos sonhos e instintos - e pintar
assuntos predominantemente infantis em comunhão com a contrapartida animal. Os
animais representam aspectos da natureza selvagem dentro de todos nós; a
criança, nossa criança interior. Pinto a proteção e a cura do sujeito humano e
do animal; minha esperança é promover a reintegração desse eu infantil com
instinto e intuição, bem como retratar uma celebração da natureza, tanto dentro
de nós quanto no mundo natural. Vejo tantas desconexões no mundo, em particular
em nosso relacionamento com a natureza, mas também em nossos relacionamentos
humanos, e meu objetivo é falar sem palavras da reunificação que esperamos e
sonhamos; oferecer uma resposta à necessidade humana de liberdade, magia e
mistério e, acima de tudo, confiança e cura.
Por muitos anos me debruço sobre o rico poço da
psicologia e da mitologia junguianas para dar forma ao meu trabalho como
artista. Os arquétipos da floresta e do mar, representando a psique
inconsciente, aparecem regularmente em meu trabalho como pano de fundo -
'paisagens da alma'. Esforço-me por capturar algo da escuridão da psique,
enfatizando a experiência esclarecedora de mergulhar nos lugares mais sombrios
de nós mesmos. Carregar luz - sinônimo de meu próprio nome - é um motivo que
adoro explorar. Ser capaz de carregar luz é uma expressão de conhecimento - uma
consciência que guiará a uma clareza cada vez maior.
Ao longo dos anos, vi meu trabalho ser usado para
ilustrar textos sobre psicologia e crescimento espiritual, e isso forneceu
muita afirmação valiosa de que a linguagem visual que tenho me esforçado para
expressar encontrou e continua a encontrar seu público. Enquanto espero acessar
e retratar símbolos coletivos com os quais os outros podem se conectar
profundamente, meu trabalho permanece descaradamente pessoal, pois é forjado a
partir das memórias da infância, inúmeras experiências de dor, conexão, perda e
crescimento e, como tal, é impossível remover do mesmo minha própria história de vida. É um conto
descrito em cores na primeira pessoa.”
Nascida em 1977 em Perth, na Escócia, a conexão de Lucy
com o profundo amor à natureza se desenvolveu durante sua infância rural. Lucy
é autodidata, embora a arte seja uma profissão em sua família há gerações.
Para mais informações: http://www.lupiart.com
Texto: Delia Corecco Steiner
Tradução:Delia Corecco Steiner.
Lucy Campbell