29 de out. de 2014

CURIOSIDADES SOBRE A MONA LISA DE LEONARDO DA VINCI.


“De tempos em tempos, o Céu nos envia alguém que não é apenas humano, mas também divino, de modo que através de seu espírito e da superioridade de sua inteligência, possamos atingir o Céu.” — Giorgio Vasari (sobre Da Vinci)

Mona Lisa - Leonardo da Vinci.

Um dos quadros mais famosos do mundo, “Mona Lisa” de Leonardo da Vinci atrai olhares e atenções no museu do Louvre, em Paris onde está exposto. Uma das mais famosas pinturas de um dos mais eminentes artistas do Renascimento, é um quadro relativamente pequeno, medindo apenas 77 cm x 53 cm. Trata-se de uma pintura a óleo feita sobre painel de madeira de álamo. 

Mona Lisa - Leonardo Da Vinci.

Aqui é possível que o espectador visualize o tamanho reduzido que a obra possui. Mona Lisa em exposição no museu do Louvre - Paris.

Segundo alguns historiadores o nome da pintura, Mona Lisa teria sido resultado de um erro de ortografia, o nome original da obra era "Monna Lisa". A palavra “Monna”, em italiano arcaico era uma forma abreviada de "Madonna", título usado na Idade Média para prefixar um nome e significa Senhora, enquanto que para Senhor se usava a designação “Messer”.  Também poderia significar Nossa Senhora, dependendo do contexto usado. Como todas as obras de Leonardo da Vinci esta obra não se encontra assinada e nem datada por ele.


Museu do Louvre, Paris – França.


Obra de arte enigmática representa uma mulher que olha diretamente para quem a observa, independente de onde este observador se posicione, o olhar de Mona Lisa o seguirá plácido. A Gioconda não possui sobrancelhas nem cílios. No entanto, algumas análises de alta resolução já revelaram que a modelo já teve sobrancelha e cílios. Alguma limpeza deve ter removido o pigmento usado para pintar estes traços.

              Olhar de Mona Lisa – detalhe quadro Mona Lisa – Da Vinci.

Nesta obra de arte Da Vinci usou com maestria a técnica do “Sfumato”, que consiste em criar suaves graduações entre as tonalidades. Nesta técnica, as cores vão do claro ao escuro, numa gradação contínua de tonalidades, sem bordas definidas enquanto as formas emergem das sombras e se misturam nelas. Leonardo da Vinci descreveria esta técnica como sendo uma técnica desprovida de linhas ou fronteiras, tomando a forma da fumaça que vai além do plano de foco. A aplicação desta técnica dificulta a percepção das pinceladas e das variações de tons nas passagens de luz e sombra. As curvas sensuais do cabelo e da roupa de Mona Lisa, criadas através do “sfumato”, encontram eco nos rios ondulantes da paisagem subjacente. A harmonia total alcançada no quadro, visível especialmente no sorriso, reflete a unidade entre Natureza e Humanidade que era parte importante da filosofia pessoal de Leonardo da Vinci.

Mona Lisa – Técnica Sfumato (detalhe rosto).

Detalhe Mona Lisa - Sfumato.

Habitantes de Arezzo no Val di Chiana, um vale na Toscana, tradicionalmente reivindicam a paisagem na obra de Mona Lisa como sendo a deles. Um artigo publicado na revista Cartographica sugere que a paisagem é formada de duas partes, que quando colocadas juntas correspondem ao mapa topográfico de Leonardo da Vinci do Val di Chiana.

Mapa topográfico Val di Chiana – Toscana – Leonardo da Vinci.

Da Vinci iniciou a pintura em 1504 - 1505 findando a mesma apenas um pouco antes de sua morte em 1519, ou seja, a obra foi sendo aperfeiçoada durante 14 anos, e alguns historiadores relatam que este teria sido o tempo que da Vinci levou para aperfeiçoar os lábios de Mona Lisa. E justamente este sorriso, o sorriso misterioso de Mona Lisa já foi motivo de várias teorias, entre elas uma que defende que ele se deve ao fato de a Gioconda estar secretamente grávida na ocasião de ter sido retratada. Especialistas do Centro de Pesquisa e Restauração do Museu da França chegaram a esta conclusão quando descobriram, por meio de raios infravermelhos, que o pintor modificou a obra diversas vezes. A Mona Lisa inicial usava um vestido fino feito de gaze, vestimenta comum para mulheres grávidas da época, assim como o delicado véu negro envolvendo sua cabeça, este tipo de véu era utilizado pelas aristocratas toscanas durante, e alguns meses após a gestação.

Mona Lisa – detalhe – Leonardo da Vinci.

Mona Lisa – detalhe boca – Leonardo da Vinci.

O quadro sob efeito dos raios infravermelhos mostra mona Lisa com o vestido de gaze.

Ainda segundo o biógrafo Giorgio Vasari, Da Vinci, ao mesmo tempo em que pintava a Mona Lisa, procurava que tivesse alguém cantando, tocando algum instrumento ou brincando, para assim distrair sua modelo, induzindo-a a manter seu bom humor, assim não adotaria um aspecto triste ou cansado. Na época, não era apropriado uma moça sorrir demais. O ambíguo sorriso de Mona Lisa se observado mais de perto apresenta ainda uma disposição meio debochada, irônica de um lado e solenemente séria de outro, talvez para que a natureza exata do sorriso não pudesse ser determinada. O jeito como as mãos da modelo estão cruzadas e pousadas sobre o colo mostram um sinal de decoro. A etiqueta da época dizia que as mulheres sofisticadas deveriam sentar desta forma.

Detalhe lábios, quadro Mona Lisa – Leonardo da Vinci.

Detalhe mãos, quadro Mona Lisa – Leonardo da Vinci.

Em 1516, Leonardo da Vinci levou a obra da Itália para a França, quando foi trabalhar na corte do rei Francisco I, o qual teria se oferecido para comprar o quadro, recebendo, porém sempre evasivas de Da Vinci, que dizia o mesmo não estar acabado. No tempo em que Da Vinci permaneceu trabalhando na corte de Fransisco I, permitiu a exibição da Mona Lisa em Fontainebleau e, posteriormente, no Palácio de Versailles. Antecipando as intenções do monarca para adquirir seu quadro depois de sua morte, Da Vinci deixou em seu testamento esse precioso objeto, ao seu assistente e modelo que conviveu com ele por 25 anos, Gian Giacomo Caprotti da Oreno, apelidado Salai ou il Salaino (que significa “Il Piccolo Diavolo” – pequeno diabo).  De fato quando Da Vinci veio a falecer em 1519, de apoplexia, o jovem Salai vendeu a obra Mona Lisa ao monarca francês por 4.000 ECUS – moeda francesa da época. Isso vem a explicar do porque este quadro se encontra em mãos francesas e não italianas. Tempos depois, Napoleão Bonaparte, tomaria a obra para si e a colocaria em seus aposentos.  

Fontainebleau – France.

Palácio Versailles – Sala dos Espelhos.

Pallais de Versailles, France.

detalhe de “A morte de Leonardo da Vinci” – Jean Auguste Dominique Ingres – 1818 (mostra o rei Fransisco I no leito de morte de Leonardo da Vinci).

Aposentos de Napoleão Bonaparte.

Napoleão Bonaparte.

Em 22 de Agosto de 1911, cerca de 400 anos após ser pintada por Leonardo da Vinci, a Mona Lisa foi roubada dentro do Louvre (museu em Paris) onde estava exposta. Muitas pessoas, incluindo o poeta francês Guillaume Apollinaire e o pintor espanhol Pablo Picasso, foram presas e interrogadas sob suspeita do roubo da obra-prima da pintura italiana. Quanto a Guillaume Apollinaire e a Pablo Picasso, foram libertados meses mais tarde. Acreditou-se, que a pintura estava perdida para sempre, que nunca mais iria aparecer. Todavia a obra reapareceu na Itália, nas mãos de um antigo empregado do museu, Vincenzo Peruggia, que era de fato, o verdadeiro ladrão. A Obra Mona Lisa em seu retorno a França, teve honras de chefe de Estado, pois havia se tornado famosíssima. Seu rosto já havia ocupado as primeiras páginas de todos os jornais do mundo. E se antes houvesse quem não a conhecesse, depois de seu roubo não havia ninguém que não tivesse conhecimento da mesma.

Vincenzo Peruggia.

Louis Beroud – Mona Lisa aux Louvre, 1911- aux  Salon Carré.

Local vazio após roubo.

Manchetes de jornais da época, sobre o roubo de “Mona Lisa”.



O poeta francês Guillaume Apollinaire e o pintor espanhol Pablo Picasso.

 Pintura de Mona Lisa sendo recolocada em seu antigo posto no Louvre em 1913.

Uma das grandes discussões no meio artístico é sobre a mulher representada no quadro. Sua identidade continua sendo um mistério. Muitos historiadores consideram a possibilidade de a modelo usada no quadro ter sido a esposa de Francesco del Giocondo, Lisa del Giocondo (Lisa Gherardini), um comerciante de Florença. Outros afirmam que seria Isabel de Aragão, Duquesa de Milão, para a qual da Vinci trabalhou alguns anos. Alguns acreditam se tratar da forma feminina de Leonardo Da Vinci. Lillian Schwartz, cientista dos Laboratórios Bell, sugere que a Mona Lisa é na verdade um autorretrato de Leonardo, porém, em sua forma feminina. Esta teoria baseia-se no estudo da análise digital das características faciais do rosto de Leonardo e dos traços da modelo. Comparando um possível autorretrato de Leonardo com a mulher do quadro, verifica-se que as características dos rostos se alinham com perfeição. Os críticos desta teoria, porém sugerem que as similaridades são devidas ao fato de ambos os retratos terem sido pintados pela mesma pessoa usando o mesmo estilo. Em 2011, pesquisadores italianos afirmaram que a pintura foi baseada em seu assistente chamado Salai. Eles sustentam a afirmação dizendo que os homens retratados por Da Vinci nas pinturas São João Batista e Angelo Incarnato têm nariz e boca semelhantes aos de Mona Lisa. Também afirmam que da Vinci deixou pintadas nos olhos de Mona Lisa minúsculas letras "L", de Leonardo, e "S", de Salai. O pintor acreditava que os olhos eram a janela da alma, logo, seriam eles um lugar perfeito para ocultar o que seria um segredo.

Isabel de Aragão – Duquesa de Milão / Mona Lisa.

Rostos de Leonardo Da Vinci e Mona Lisa sobrepostos – segundo teoria defendida por Schwartz.

Traços dos rostos de São João Batista e Angelo Incarnato (ambos tendo como modelo Gian Giacomo Caprotti da Oreno ou mais conhecido como Salai).

Mona Lisa – detalhe olho com letra L.

A pintura possui ainda uma pequena imperfeição. Em 1956, um homem chamado Ugo Ungaza jogou uma pedra na pintura, o que resultou em um pequeno pedaço de pintura danificada ao lado de seu cotovelo esquerdo. Estudos têm demonstrado que existem três camadas diferentes pintadas antes da atual versão da pintura. Mas apesar de qualquer tipo de imperfeições descobertas na pintura, esta obra de arte renascentista é reverenciada em todo o mundo como uma das maiores obras-primas de todos os tempos.

Imperfeição que podemos encontrar na obra Mona Lisa após 1956.

Muitos historiadores da arte desconfiavam de que a reverência de Da Vinci por Mona Lisa nada tinha a ver com sua maestria artística. Segundo muitos afirmavam devia-se há algo muito mais profundo: uma mensagem oculta nas camadas da pintura. Se observarem com calma, verão que a linha do horizonte que Da Vinci pintou se encontra num nível visivelmente mais baixo que a da direita, o que faz com que a Mona Lisa pareça maior se vista da esquerda do que da direita. Historicamente, os conceitos de masculino e feminino estão ligados aos lados - o esquerdo é o feminino, o direito é o masculino.


Visualização da linha de horizonte de ambos os lados do quadro Mona Lisa.

Leonardo Da Vinci um dos maiores gênios da humanidade que até hoje intriga os pesquisadores. Foi um alto iniciado, um elevado mestre com acesso a conhecimentos secretos e essencialmente herméticos intuindo sobre coisas que se situavam muito além de seu tempo. Porém, ele vivia os tempos negros da Inquisição Católica, tempos perigosos para alguém como Da Vinci, e justamente este episódio fez com que ele velasse certos fatos e verdades sob forma de metáforas tanto em seus apontamentos denominados cadernos quanto em suas pinturas. Uma obra bastante controversa a este respeito é a famosa Santa Ceia no qual teria retratado a própria Maria Madalena, (esposa de Jesus) ao seu lado na mesa, disfarçada como apóstolo João, porém é claro que há controvérsias e esta versão não é aceita pela Igreja e pelos que a seguem. Alguns pesquisadores verificaram a semelhança desta figura na Santa Ceia, com o retrato de Mona Lisa, ambas ruivas tendo seus cabelos cacheados como os anjos de Da Vinci. Observando o quadro de Mona Lisa observaram que sua pele, que ao longo dos anos adquiriu um amarelo pálido e escuro, era a princípio muito alva, tom de pele com a qual as Madonas eram retratadas. A sua suposta gravidez viria a corroborar a teoria de que ela fosse de fato Maria Madalena, portando o filho de Jesus, ou o "SANGREAL" (SANTO GRAAL), representando a Força Feminina Divina de Deus (Pai/Mãe). Apenas para ilustrar esta teoria é sabido que na antiga mitologia egípcia, Amon era o companheiro de Ísis, cujo nome original na Antiguidade era "L’ISA". Dentro do conceito sagrado da estrela de David, a união do feminino ao masculino, do cálice à espada, unindo ambos os nomes teremos: AMONL’ISA, ou seja: A MONA LISA.

É claro que todas estas teorias ficam a critério de cada leitor, porém o seguinte questionamento vem a intrigar todos aqueles que estudam a obra de arte Mona Lisa de Da Vinci. Porque em sendo a princípio apenas um retrato secular, não religioso, apenas mais uma encomenda, da Vinci não se desfez do mesmo, retocando-a constantemente por 14 anos, até o fim de sua vida, sem nunca entrega-la a quem a encomendou e sem nunca se separar da mesma?

Provável autorretrato de Leonardo Da Vinci, cerca de 1512 a 1515.

Detalhe da Santa Ceia - 1494 – 1498 Leonardo da Vinci.

The Last Supper – Leonardo da Vinci – 1494 – 1498. 

Mona Lisa – No quadro se pode notar seus cabelos ruivos e o véu por sobre os mesmos.


A pintura se encontra hoje no Museu do Louvre (Paris – França), em uma sala própria de clima controlado, atrás de uma caixa de vidro blindado, há 15 m de distância de seus visitantes sob a constante vigilância de guardas. O quarto foi construído exclusivamente para a pintura e custou o museu mais de sete milhões de dólares.

Local em que a obra ficava exposta no museu do Louvre antes da construção de um ambiente somente para ela. Aqui em 1929.

Distância de 15m mantida para o público.

Guardas ao lado da obra Mona Lisa.

Este quadro é provavelmente o retrato mais famoso na história da arte, senão, um dos quadros mais valiosos de todo o mundo. Poucos outros trabalhos de arte são tão controversos, questionados, elogiados, reproduzidos ou tiveram tanta repercussão no mundo da arte.


“Mona Lisa, imagem culminante da poética de da Vinci.” — Pietro C. Marani

Que o perfume das rosas os acompanhe em seus caminhos... muita luz!

83.000 VISUALIZAÇÕES.

                             Arte Gráfica por Vanessa Corecco Calado.


"Arte não é senão a expressão dos nossos sonhos, aquele que se entrega  a eles é o que mais se aproxima de sua verdade interior." – Franz Marc

"El arte no es sino la expresión de nuestro sueño, el que más se entrega a ellos es el que más se acerca a su verdad interior." – Franz Marc

"L'arte è altro che l'espressione dei nostri sogni, uno che indulge in essi è quello che più si avvicina alla tua verità interiore." - Franz Marc

"Kunst ist nichts anderes als der Ausdruck unserer Träume, derjenige welcher sich den Träumen ergibt, ist wer seiner Inneren Wahrheit am nächsten kommt." - Franz Marc

"Art is nothing but the expression of our dreams, the one which follows its dreams is the one who comes closest to its interior truth." - Franz Marc

"Art n'est rien, mais l'expression de nos rêves, celui qui entraîne dans les rêves est celui qui se rapproche le plus de sa vérité intérieure." - Franz Marc

13 de out. de 2014

82.000 VISUALIZAÇÕES.

Arte Gráfica por Vanessa C. Calado.


"O coração do homem é muito parecido com o mar, tem suas tempestades, suas marés e suas profundezas; mas possui também suas pérolas." - Vincent Van Gogh

“Das Herz des Menschen ähnelt sehr dem Meer, es hat seine Stürme, seine Fluten und seine Tiefen ; aber auch seine Perlen.” - Vincent Van Gogh

"El corazón del hombre es muy similar a la del mar, tiene sus tormentas, sus mareas y sus profundidades; pero también tiene sus perlas." - Vincent Van Gogh

"Le cœur de l'homme est un peu comme la mer, a ses tempêtes, ses marées et ses profondeurs; mais elle a aussi ses perles." - Vincent Van Gogh

'The heart of man is very much like the sea, it has its storms, its tides and its depths; it has its pearls too." - Vincent Van Gogh

"Il cuore dell'uomo è molto simile al mare, ha le sue tempeste, le sue maree e le sue profondità; ma ha anche le sue perle." - Vincent Van Gogh



10 de out. de 2014

O MUNDO DE HERMEN ANGLADA CAMARASA – QUIMERAS DA ARTE.

                     Gitana com Niño – Herman Anglada Camarasa

Nascido em 1871, em Barcelona na Catalunha, Espanha, representante do estilo pós-modernista espanhol, Hermenegildo, como é conhecido em sua terra natal, é um dos mais populares e bem sucedidos artistas espanhóis do início do século XX. Importante pintor da história catalã que viria a ser bastante conhecido fora da Espanha. Cidades como Paris, Barcelona, Madrid, Buenos Aires, Roma e Veneza são algumas que receberam suas criações e as exibiram. 


Hermen Anglada Camarasa.

Pessoa de caráter forte, dotado de um senso de humor inabalável, rebelde e inconformista, se auto impôs uma férrea disciplina desde criança já que tinha uma enorme ambição em ser um pintor renomado, e mostrava ainda pequeno uma paixão desenfreada pelas artes e pela pintura, talvez influenciado por seu pai, que na época era pintor decorativo de carruagens assim como exímio aquarelista. Infelizmente, o mesmo viria a falecer quando Anglada tinha apenas sete anos de idade, o que decorreria em uma época difícil para toda família. Alguns anos depois sua mãe o incentivara a trabalhar na casa de um familiar, um rico empresário, mas Anglada se nega terminantemente porque tinha como firme propósito realizar seu sonho de ser artista, o que dividiria sua família entre aqueles que se oporiam ao desenvolvimento de sua vocação artística e aqueles que o incentivariam. Frequentou o Ensino Médio, porém durante estes anos, talvez relacionado ao fato de querer convencer sua família de que seu desejo de seguir os estudos artísticos era sério, ficou gravemente enfermo e teve que repousar por um longo período. Aos quinze anos finalmente sua mãe concordou que ele iniciasse seus estudos Artísticos na renomada escola Llotja (Escola Superior de Arte e Design, um instituto público de ensino superior, herdeira da Escola Livre de Desenho, criado em 23 de janeiro de 1715, pelo Conselho de Comércio de Barcelona, o Llotja é a mais antiga escola de design da Espanha). Seus primeiros trabalhos seguiam claramente os cunhos acadêmicos de seu professor, o pintor impressionista espanhol, Modesto Urgell y Iglada.

Llotja-de-Barcelona-1870 escuela de Bellas Artes.


Modest Urgell i Inglada, 1839.

Paysage con figura - Modesto Urgell y Iglada.


Hermen Anglada Camarasa - Flores y copa  - 1889.

Hermen Anglada Camarasa - Paisaje. 1889. Óleo sobre lienzo, 100 x 150 cm. Museo Reina Sofía.

Um de seus primeiros trabalhos foi adquirido por Victor Balaguer, político, escritor, poeta e historiador catalão que a expôs junto a obras de outros artistas na inauguração da Biblioteca-Museu Victor Balaguer, na cidade de Barcelona, Catalunha, Espanha, o que lhe trouxe visibilidade. Durante os anos seguintes Anglada estaria envolvido em várias exposições coletivas de Belas Artes na Espanha. 

Victor Balaguer.

Hermen Anglada Camarasa - Paisatge amb pont – 1890.

Cabeza de viejo - 1895 - 1897.

Contudo o jovem Anglada desejava acima de tudo ter sucesso, ser reconhecido, então aos 23 anos logrou que a reconhecida galeria de Arte “Sala Parés” expusesse suas obras. Assim, em 1894 conseguiu mostrar algumas de suas obras em uma das salas da galeria, para a qual idealizou e fez imprimir panfletos de divulgação das mesmas a serem distribuídos entre os visitantes. Porém, a mostra não teve a repercussão esperada por Anglada, já que outro pintor catalão, Ramón Casas que expunha obras em outra sala na mesma galeria, fez um enorme sucesso com seu quadro “El Garrote Vil” se tornando o protagonista daquela galeria naquela data.


Sala Parrés – Barcelona.

Ramón Casas – Selfportrait.

Ramón Casas  - El Garrote Vil -  1894.

Neste mesmo ano Anglada decide mudar-se para Paris. Uma vez na capital francesa, começou a frequentar aulas de arte na “Académie Julian”, durante o dia, e na “Académie Colarossi” a noite. Nos primeiros anos em Paris, viveu alguns momentos difíceis, apesar de poder contar com o apoio financeiro de um familiar que lá residia. 

Académie Julian - Paris.

               Cours de modèle vivant, atelier des garçons, Académie Julian.

Académie Colarossi – Panfleto publicitário.

Academie - Calorossi modelo vivo.

Em suas aulas noturnas na Academia Colarossi conheceu o artista peruano Carlos Baca-Flor, que o introduziria aos modernos meios artísticos da cidade às margens do Sena, fazendo-o descobrir a vida noturna deslumbrante e sedutora de Paris com cabarés, cafés e entretenimentos. A partir desse momento, cercado por neo-impressionistas e simbolistas, Anglada começou a realizar obras que retratavam com maestria a vida noturna parisiense galopante da Belle Époque, repleta de mulheres sensuais, o que ele representou como sutis e etéreas figuras femininas, seguindo o arquétipo da ”femme fatale”.

Mujer de noche en París - 1898.

París la nuit - c. 1900.

 El casino de Paris 1900.

Blanquita 1902.

Champs Elysées. 1904.

Le paon blanc, 1904.

A sua pintura acusa a influência marcante de artistas como Toulouse Lautrec, Gustav Klimt e Van Dongen. Mas, a verdadeira transformação em seu estilo se daria com a chegada a capital francesa do balé russo Diaghilev, com os excepcionais bailarinos, Nijinsky e Pavlova. Este evento social artístico viría a revolucionar os gostos e costumes parisienses da época. Anglada ficou profundamente impactado diante dos cenários e figurinos, com as cores vivas em tons de laranja, fúcsia e verde, tanto que os seus retratos femininos em tons mais pálidos deram lugar as matizes multicoloridas. 

La Gata Rosa – 1908.

La chica Inglesa - 1908.

Los ópalos. 1904. Óleo sobre tabla.

Mur céramique, 1904.

Friso valenciano - 1905 – 1906.

Valencia 1910.

Ao romper do novo século, Anglada Camarasa já é uma figura respeitada e admirada no mundo da arte parisiense, cujas obras despertam o interesse de colecionadores como o compositor René Castera. Foi precisamente o músico que o apresentou aos círculos burgueses de Paris, os quais lhe fariam inúmeras encomendas.

Mademoiselle, c. 1900-1904.


Papallona de nit, 1913.

Sonia de Klamery, Comtessa de Pradere - 1913.


No ano de 1900, durante uma estadia em Barcelona, Anglada mais uma vez organizaria uma exposição na “Sala Parés”, porém desta vez uma exposição individual, feito incomum para tão jovem artista. Em um esforço para agradar a todos, o artista decidiu trazer sua própria visão pictórica da noite e boémia de Paris com uma seleção de desenhos acadêmicos, para deixar claro que, era exímio desenhista embora suas pinturas pudessem indicar o contrário. Mostrou através de suas novas obras o que tinha aprendido na capital francesa e causou grande exaltação por parte do público, dentre eles o ainda muito jovem Pablo Picasso, assim como conseguiu lograr críticas favoráveis dos críticos de arte Raimon Casellas e Alfredo Opisso.

Grupo de Valencianas-Dibujo.

Desnudo bajo la parra, 1909.

Dibujo preparatorio para Desnudo bajo la parra 1909.

Detalle de la Granadina - 1914.

Escena gitana 1901.

Reclining-nude.

Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial sua carreira sofreria uma reviravolta. Com metade da Europa imersa em uma sangrenta guerra, e a força das novas vanguardas artísticas em expansão, seu trabalho foi relegado para segundo lugar no continente, porém nos EUA seus trabalhos começaram a chamar a atenção de Archer Huntington, fundador da “Hispanic Society of New York”, e defensor do trabalho de outros dois artistas espanhóis: Sorolla e Zuloaga. Ao mesmo tempo, em países como a Argentina, seu trabalho também viveria um grande momento, graças à divulgação feita por artistas sul americanos que haviam sido seus alunos na "Academia Vitti" de Paris.

Hermen Anglada Camarasa Hermen  entre sus alumnos.


Hispanic Society of America New York.


Archer M. Huntington.

Depois da Grande Guerra, Anglada se estabeleceria em Mallorca, especificamente em “Port de Pollença”, onde desfrutou de alguns anos de aposentadoria até meados dos anos 20. Seu trabalho artístico é invadido por belíssimas paisagens e marinhas mantendo, porém seu cromatismo e suas pinceladas características. As árvores, as rochas, a baía se tornaram protagonistas de suas pinturas. O crepúsculo e as paisagens iluminadas por um Sol cálido típico das costas de Mallorca começam a dividir espaço em suas obras com lindos arranjos florais em vasos, porém Anglada ainda necessitava de um pouco de obscuridade para suas iridescências e a encontrou no fundo do mar, nos revelando a vida marinha em todas as suas cores e nuances.

  Llegada de la romería del arroz. Museo Reina Sofía.

La higuera 1917.

Palma de Mallorca.

Bóquer 1920 -36.


Flores y Frutos - 1940.

Fons de mar - c 1927 - 1928.

Sua Iconografia nos revela festas, mulheres em trajes regionais, ciganas, paisagens de Pollença, Mallorca, a noite parisiense, temas equestres, danças espanholas, temas orientais, pinturas efêmeras, cheias de espectros de luz e de sombras. Sua pintura tem um poder expressivo incrível, tem movimento, podemos quase escutar o som frenético das castanholas das dancarinas de Zambra, dança flamenca dos ciganos, podemos visualizá-las envolvidas pelo ritmo “caliente”. Suas cenas noturnas iridescentes da Belle Epóque parisiense, seus cafés e cabarés retratam com maestria o efeito produzido pela iluminação elétrica, que havia chegado para substituir a iluminação de lampiões a gás.

El tango de la corona. Obra de Anglada Camarasa 1910.


Feria en Valencia 1910.

Zambra.

Chula de Ojos Verdes - 1914.            Retrato de Leticia Bosch 1922.

Sevillana 1911-12.                     


                 Moulin Rouge. 

La Cafeteria 1904.       


El Jardín Parisino.

Caballo y gallo – 1904.

Baile gitano c. 1914 – 1921.

La Rondalla de jaca – 1910.

                        La Higuera de la huerta, invierno. Mallorca 1918.


La-costa-del-colomer – 1927.


Grande parte da sua obra está ligada ao modernismo, e, fiel a este estilo artístico, os valores cromáticos de suas obras são suntuosos e ornamentais. Seu trabalho é conhecido pela gama de tonalidades escolhidas com maestria revelando cores presentes na natureza, em combinações harmônicas que ressaltam ainda mais a beleza das figuras e paisagens representadas. Muitas vezes beira ao “colorismo artístico”, dando preferência às cores em detrimento dos objetos, substituindo as relações de valor pelas relações de tonalidade. Observamos em suas pinturas a preeminência da força sobre a forma, a subordinação da linha à cor.

Gruta en el fondo del mar. 1927.

Jardí amb xiprers – 1930.

Gitanas con perros 1922.

La Sibila - c.1913.

Ver Luisiant-1904.


Quando a Guerra civil espanhola eclodiu, Anglada, republicano e maçom, encontrava-se em Barcelona, porém com o avanço e a vitória das tropas de Franco, foi obrigado a se exilar na França. Voltaria em definitivo a Espanha em 1948, se estabelecendo novamente em Port de Polença, onde viria a falecer em sua casa aos 88 anos, no ano de 1959. Lá, em sua homenagem ergueram uma escultura de bronze no “Pine Walk”. A casa onde vivia foi transformada em museu, o “Museo Anglada Camarasa”.

Monumento a Hermen Anglasa Camarasa em Pine Walk Port de Polença, Espanha.

Fiesta Valenciana.


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